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sexta-feira, 31 de julho de 2015

Proseando Arqueologia: O Sambaqui da Beirada







Sambaquis são sítios arqueológicos de ocupação litorânea onde foram encontrados vestígios de culturas passadas. São antigos locais de habitação pré-histórica que ultrapassa os quatro mil e quinhentos anos de existência e onde seus moradores sobreviveram basicamente da caça, da pesca, da coleta vegetal e animal. O nome original em tupi, batizado pelos índios de "Tambaqui" significa "depósito ou amontoado de concha". Mais tarde, este nome foi aportuguesado para "Sambaqui".


Os Sambaquis têm aparência de colina formado pela ação humana, através da superposição de sucessivas ocupações ao longo do tempo. São encontrados em quase toda a costa brasileira, porém seus habitantes não eram antepassados dos indígenas que surgiram muito tempo depois. O Sambaqui da Beirada, localizado em Saquarema, estado do Rio de janeiro, está entre um dos poucos que foram preservados da exploração desordenada que assolou vinte dos vinte e quatro sítios arqueológicos dessa região. Possui uma área arqueológica avaliada em dois mil trezentos e vinte metros quadrados, onde apenas cento e sessenta metros quadrados foram pesquisados.



                                                     Utensílio encontrado no Sambaqui da Beirada

Os nômades pré-históricos que habitaram o Sambaqui da Beirada escolheram este local para assentamento pela sua proximidade com o mar garantindo, desse modo, boa parte de seu sustento pela fartura de peixes e moluscos encontrados nesse litoral. Além de desfrutarem da riqueza natural da região, podiam explorar dos recursos aquáticos como complemento alimentar. Estima-se que num período de aproximadamente três mil anos, o homem pré-histórico encontrou variadas opções de alimentos e de matéria prima para confecção de seus artesanatos.


O peixe e o molusco forneceram a principal fonte de proteína alimentar, somado a uma fauna rica e abundante que ainda hoje é fecunda na região de Saquarema. Anfíbios, répteis, aves e mamíferos foram também consumidos, porém em menor escala. A caça, uma atividade secundária, foi uma constante ao longo das ocupações pré-históricas. O alimento vegetal, avaliado principalmente pelos artefatos, incluíam frutos, sementes e tubérculos encontrados na região e foram bastante apreciados pela comunidade local. Ente eles o maracujá, a pitanga, a aroeira, a quixabeira, o ingá, o copororoca, a murta, a salsaparrilha e mais de mil espécies de plantas de restinga de valor alimentar e medicinal.






O homem do Sambaqui da Beirada, além da pesca e coleta de moluscos, também confeccionava artesanatos de pedras, ossos e conchas. Os artesanatos líticos e ósseos eram utilizados como acompanhamento nas práticas funerárias, domésticas, artesanais, cerimoniais e de subsistência. A matéria prima selecionada era composta de conchas e moluscos, espinhos de peixes, diáfises de aves e mamíferos, esporão de raia, dentes de mamíferos, placa óssea de répteis, vértebras de tubarão, mandíbula de peixes, além de ossos diversos de peixes, aves, répteis, mamíferos e crustáceos


O provável uso de embarcação pelos homens do Sambaqui da Beirada é uma hipótese fundamentada pelo hábito que esses homens tinham de consumirem peixes como a corvina, o bagre, além de peixes de pequeno, médio e grande porte. Cinco espinhos de bagre em forma de V e o que seria provavelmente um harpão, foram encontrados no Sambaqui da Beirada. Dos artefatos ósseos, o predomínio de agulhas, pontas e raspadores de concha, mostram que esses utensílios além da função específica de raspar, serviriam também para cortar. Em termos numéricos, o Sambaqui da Beirada apresenta o maior número de artefatos em instrumentos utilitários (agulhas e raspadores), seguido de armas (pontas) e adornos (conchas perfuradas e vértebras trabalhada).


Além de hábeis caçadores e artesãos, tinham hábitos peculiares de sepultamento que era realizado no próprio local de moradia. Entre o sexo feminino há um ligeiro predomínio de sepultamentos com as faces voltadas para baixo, enquanto que nos sepultamentos masculinos há um percentual maior de faces voltadas para sul e para oeste. Nos sepultamentos infantis, as faces são voltadas para o sul e para baixo. Além disso, as práticas funerárias evidenciadas no Sambaqui da Beirada mostram a diferença de "status"existentes nas sociedades pré-históricas, bem como a preocupação do homem com a morte. Corantes vermelhos e amarelos ornavam diversas regiões do esqueleto, associados a artefatos e oferendas diversas.


Os habitantes primitivos da região construíam habitações temporárias, acendiam fogueiras para a cozedura de alimentos e também para obter fonte de calor e iluminação. Eram indivíduos fortes, de estatura média/baixa que viviam em grupos familiares e devido à sua base alimentar rica em peixes e moluscos apresentavam uma dentição com pouca ou nenhuma cárie, embora seus dentes fossem muito desgastados.




O "bando" como a arqueologia define grupos de hábitos e culturas homogêneas
cremavam os corpos e enterravam as cinzas. Testes de carbono mostram que os
rituais ocorreram há mais de 2.200 anos.



O Sambaqui da Beirada, assim como outros sítios arqueológicos pesquisados na região, são um verdadeiro museu arqueológico ao ar livre que revelam as culturas mais diversas que ocuparam Saquarema em tempos pré-históricos, deixando como testemunho de vida restos de materiais recuperados à partir de escavações arqueológicas e análises laboratoriais. As manifestações artísticas, os hábitos alimentares e as práticas funerárias do Sambaqui da Beirada, assim como alguns utensílios, restos orgânicos e esqueletos pré-históricos, que foram encontrados preservados da ação do tempo, fizeram deste Sambaqui em especial um dos sítios arqueológicos mais fidedignos da existência e da trajetória do homem pré-histórico em solo brasileiro.

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