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terça-feira, 31 de outubro de 2017

Reforma Protestante: A Ruptura da Unidade Cristã




Palácio dos Papas - Avignon.


A Igreja Católica na Idade Média viveu o apogeu de seu poder político, econômico e dominante sobre a sociedade feudal. Regulava quase que a totalidade da vida cotidiana das diferentes classes sociais, não obstante aos muitos contratempos e reveses que sofreu. Um desses contratempos, foi a transferência do papado de Roma para Avignon, pelo rei Felipe IV da França, que desejoso de ter o domínio sobre o clero e suas finanças, devido às grandes somas de dinheiro que eram enviadas de toda a Europa para o papado, e principalmente pelo fato da França estar em guerra com a Inglaterra, resolveu consagrar um papa francês, permitindo assim, obter o controle político mais facilmente. Apesar deste período ter ficado conhecido como "cativeiro babilônico" e das sucessivas divisões que surgiam dentro do seio da Igreja, esta prosseguia como instituição dominante. 

Alguns historiadores, como Will Durant, em seu livro, "A Reforma", nos mostra um quadro de atividades em que a arte e a música dependiam da cristandade para sobreviver e existir, passando pela filosofia, matemática, astronomia e outras ciências que eram patrocinadas pela Igreja. Os humanistas, intelectuais que surgiram na Itália em fins do século XIII, só puderam resgatar as línguas oficiais do latim e do grego porque monges dedicados cuidaram de preservar intactos centenas de milhares de escritos em suas línguas antigas, ainda que outros tantos escritos tenham sido destruídos por esses mesmos monges. O poder espiritual era de domínio total da Igreja Católica e o modelo feudo-militar ainda imperava, contribuindo para manter o poder da cristandade quase que intocável.


A hierarquia que mantinha o homem do campo subordinado ao seu senhor, fazia com que camponeses jurassem seguir a Igreja como representante de Deus na terra, como sinal de fidelidade aos seus senhores. Dessa forma, era mantida a cúpula eclesiástica e toda sua estrutura permanecia inabalável. Um exemplo dessa ordem e desse poder, está na coroação do rei Eduardo II, em 25 de Fevereiro de 1308. Eduardo, sexto rei da casa dos Plantagenetas, diante da hierarquia eclesiástica e de toda a nobreza reunida na Abadia de Westminster, prestou juramento respondendo afirmativamente a todas as alegações dogmáticas feitas pelo Arcebispo de Cantuária, o qual ao fim da cerimônia, o coroou rei da Inglaterra. Desta maneira, a Igreja continuava coroando reis e imperadores, mantendo-se forte e como única força unificadora da Europa. A Igreja também era responsável pela convocação e declaração de guerras, as chamadas "Guerras Santas", cujo objetivo em primeiro lugar era assegurar seus interesses econômicos e o monopólio da fé e da religião católica, preservando assim seus domínios. Para esse fim, o Papa Inocêncio III, nos anos de 1208-1209, não exitou em lançar uma nova cruzada. Dessa vez, não foi uma cruzada contra os "infiéis muçulmanos", mas sim contra os próprios cristãos.


A Cruzada contra os cátaros e os albigenses, teve como finalidade combater o mal da "heresia". Os albigenses estavam dominando o Sul da França e conquistando domínios territoriais. Os cátaros, por outro lado, possuíam um estilo de vida baseado na simplicidade, ainda que conservassem uma certa austeridade. Levavam uma vida honesta, voltada para a pregação das Escrituras, o que os fez ganhar rapidamente grande admiração e o respeito de todo o povo. Logo, a Igreja percebeu que se não combatesse aquela "heresia", perderia não só a hegemonia naquela região, como poderia tal heresia se espalhar por toda a França, e dali para outras regiões já cansadas do domínio e poder da Igreja e de seus abusos, o qual mediante o terror, impunha à população o conceito de castigo e inferno pelo descumprimento de seus dogmas, garantindo através do medo, o controle sobre as classes e o poder político, interferindo em questões de Estado, bem como estimulando e fomentando guerras de acordo com seus interesses.



Em 1095, o Papa Urbano II convocou pela primeira vez as Cruzadas, aumentando por consequência o domínio da Igreja Católica que matava com o aval de Deus. Segundo este Papa, podia-se obter o favor de Deus e a salvação, matando e livrando a terra dos "infiéis". Desse modo, a convocação para as Cruzadas foi um sucesso estrondoso, onde nobres de poucas posses, camponeses desiludidos, fanáticos de todas as partes da Europa, aventureiros e homens de guerra, responderam ao chamado do Papa, colocando à disposição seus dotes ao serviço de quem pagasse o valor mais alto. Mais à frente, no entanto, esse movimento provocou importantes mudanças no cenário europeu e contribuiu para a erosão do domínio absolutista da Igreja, principalmente através do surgimento e intensificação das rotas de comércio que trouxe um novo olhar na maneira de enxergar o mundo por esses homens que ao saírem para outras terras, conheceram outras culturas e povos. Neste período, o comércio ganhou uma importante contribuição dos Templários, fazendo surgir um novo segmento composto de comerciantes, cuja pátria estava onde melhor fossem recebidos e onde as chances de lucro lhes fossem mais vantajosas, sem o temor de perderem suas almas e suas bolsas.

Apesar do forte domínio ainda exercido pela Igreja Católica em vários aspectos, foi durante esse período que ela passou a enfrentar resistências. Algumas guerras surgiram, no qual senhores feudais, nobres e camponeses passaram a lutar contra o poder dos papas. Outro desafio enfrentado pela Igreja, veio com os Cavaleiros Templários. Instalados na Terra Santa por volta do século XII, durante as Cruzadas e após a tomada de Jerusalém, os Templários já haviam se transformado em 1300, em uma vasta empresa internacional, atrás apenas do papado em influência e riqueza. Os Templários haviam passado de guerreiros, para um número ainda maior de administradores, burocratas, funcionários, os quais possuíam imensas quantidades de terras, não só no mundo cristão ocidental, mas também no Oriente. 

Os Templários passaram a ter autoridade, tanto na esfera da Igreja Cristã de Roma, como da Igreja Ortodoxa Grega e de Constantinopla. Criavam animais, cultivavam a terra, produziam madeira, além de possuírem navios que transportavam peregrinos de e para a Terra Santa. Deste modo, constituíram um importante poder autônomo, a ponto de fazer a Igreja e os clérigos temerem a sua força. Como se não bastasse, os Templários dominavam as mais avançadas tecnologias bélicas de sua época, bem como seus inúmeros recursos militares, tanto em material como em número de homens treinados, excedendo dessa forma, qualquer outra instituição européia. Eram ainda, os principais banqueiros da Europa, cujas transações financeiras, complexas e sofisticadas, abrangiam desde monarcas e nobres a eclesiásticos e comerciantes. 

Os Templários representavam uma importante força no cenário europeu. Suas atividades ajudaram a mudar as práticas de comércio e abriram uma forte onda de inveja e ambição da Igreja e de alguns sobreanos, entre eles, Felipe, mais conhecido como "Felipe, o Belo". Diante da nova ameaça dos Templários, a Igreja reagiu juntamente com Felipe e os acusou de heresia. Desta maneira, a Igreja conseguiu prevalecer e manter sua unidade ainda por algum tempo, mesmo após o Grande Cisma, até o século XVI quando ocorreu a Reforma Protestante.


Antes da Reforma Protestante, todo o excedente econômico era entregue à Igreja Católica, que tinha a função de distribuir os benefícios aos necessitados, pois era a instituição que monopolizava a interpretação da realidade social, já que era ali que se encontravam os estudiosos e eruditos. Toda a riqueza adquirida acima do necessário para suprir as necessidades dos homens, deveria ir para as mãos dos clérigos que as repassava à sociedade em forma de benefícios sociais e culturais. No entanto, esse repasse não era distribuído em sua integralidade. Apenas uma pequena fração ia efetivamente para esse fim. A Igreja entendia que somente aqueles que realizassem algum tipo de trabalho social em benefício do coletivo, poderia desfrutar de maiores benefícios econômicos. Segundo a Igreja, era inconcebível que o homem visasse o lucro monetário com seu trabalho, pois seus negócios só deveriam custear aquilo que pudesse cobrir a sua produção. Portanto, todo o ganho lucrativo extra era visto como exploração, extorsão, ganância e imoralidade, o que consistia falta grave diante de Deus e por esta razão, sujeito aos castigos do sofrimento eterno.



O Cristianismo abominava a usura e neste contexto, a figura do usurário passou a ser complexa, tendo em vista que a Igreja condenava a prática da riqueza mal adquirida, ou seja, a usura, que segundo eles, feriam a moralidade cristã. Para fundamentar esta posição, baseavam-se em textos das Escrituras Sagradas, mais especificamente no livro de Exodo 22:25, que diz: "Se emprestares dinheiro ao meu povo, ao pobre que está contigo, não te haverás com ele como credor que impõe juros". E também no Novo testamento, que diz: "Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas" (Mateus 6:24). Alguns papas como Urbano III, Gregório IX e Alexandre III, condenavam a usura. Clemente V, no Concílio de Viena (1311-1312) afirmou que: "Se alguém cair no erro de pretender afirmar pertinazmente que exercer as usuras não é pecado, decretamos que seja castigado". Este Concílio, condenava como herege aquele que fizesse uso dos juros nos empréstimos financeiros. Assim sendo, a economia mercantil não podia prosperar entre os cristãos, pois estariam sujeitos aos tribunais eclesiásticos. Esta prática, somente poderia ser tolerada aos não cristãos como os judeus, pelo fato destes não serem cristãos, com acesso restrito aos setores primários da economia medieval, onde lhes era vedado possuir terras ou propriedades, restringindo suas atividades ao comércio e as atividades financeiras, ou usura.

Alguns senhores feudais que aos poucos se converteram ao catolicismo, doavam terras à Igreja, contribuindo que esta se tornasse a cada doação, mais forte. Esta prática conferia ao doador a isenção de impostos, ao mesmo tempo que obtinha a proteção da Igreja, independente de ser católico ou não. Essa estrutura, integrada ao sistema feudal dos mosteiros, tinha um sistema muito semelhante ao domínio exercido nos feudos. Nestes mosteiros se concentrava a cultura medieval desenvolvida, arquivada e estudada pelos monges e outros religiosos. A Igreja detinha desta forma, o monopólio da cultura, pois os monges eram os únicos que sabiam ler e escrever. Portanto, eram eles quem dominavam.





Ao final do século XV e no início do século XVI, a Europa já dava mostras de que não suportava mais todo o fardo imposto pela Igreja. A Inquisição já havia começado, deixando à mostra seu rastro de dor, sofrimento e a morte ia se espalhando por todos os lugares. Da Inglaterra, ecoaram vozes como a de John Wycliff pregando a ruptura com a Igreja papal. Os albigenses já tinham sido exterminados e o rei Felipe, o Belo, já tinha imposto uma humilhante derrota à Igreja com a transferência do papado de Roma para Avignon. Alguns papas tentaram implementar reformas no seio da Igreja, embora nunca tenham de fato conseguido levar adiante tais reformas. Era cada vez mais nítida a situação de decadência em que o clero e suas instituições religiosas haviam mergulhado. O Humanismo surgia trazendo consigo a esperança de mudança. A música, as artes e a literatura floresciam por todos os lados. 



Humanistas como Erasmo de Roterdã, pregavam, antes mesmo de Lutero, a necessidade da Igreja fazer uma revisão interna, passando pela autocrítica de alguns de seus dogmas. O abismo entre a instituição religiosa e a nobreza desejosa de se libertar das amarras do catolicismo era cada vez maior. O povo cansado, sem esperanças de viver dias melhores sendo cada vez mais explorado, onde até mesmo para obter o perdão de seus pecados e assim escaparem dos horrores da condenação eterna do fogo do inferno, tinham que pagar pesadas penitências e vultuosas indulgências como ato de contrição. A Europa era um barril de pólvora, prestes a explodir. É neste cenário que surge Martinho Lutero, que com suas 95 teses, forneceu o estopim e a fagulha para que esta explosão acontecesse.






Os artigos desse blog são de direito reservado.
Sua reprodução, parcial ou total, mesmo citando este link,
é proibida sem a autorização do autor.
Plágio é crime e está previsto no Código Penal,


Lei nº 9.610-98 sobre os Direitos Autorais










































terça-feira, 10 de outubro de 2017

A Igreja Católica do Final da Idade Média ao Início dos Tempos Modernos.




Palácio dos Papas - Avignon.


A Igreja Católica na Idade Média viveu o apogeu de seu poder político, econômico e dominante sobre a sociedade feudal. Regulava quase que a totalidade da vida cotidiana das diferentes classes sociais, não obstante aos muitos contratempos e reveses que sofreu. Um desses contratempos, foi a transferência do papado de Roma para Avignon, pelo rei Felipe IV da França, que desejoso de ter o domínio sobre o clero e suas finanças, devido às grandes somas de dinheiro que eram enviadas de toda a Europa para o papado, e principalmente pelo fato da França estar em guerra com a Inglaterra, resolveu consagrar um papa francês, permitindo assim, obter o controle político mais facilmente. Apesar deste período ter ficado conhecido como "cativeiro babilônico" e das sucessivas divisões que surgiam dentro do seio da Igreja, esta prosseguia como instituição dominante. 

Alguns historiadores, como Will Durant, em seu livro, "A Reforma", nos mostra um quadro de atividades em que a arte e a música dependiam da cristandade para sobreviver e existir, passando pela filosofia, matemática, astronomia e outras ciências que eram patrocinadas pela Igreja. Os humanistas, intelectuais que surgiram na Itália em fins do século XIII, só puderam resgatar as línguas oficiais do latim e do grego porque monges dedicados cuidaram de preservar intactos centenas de milhares de escritos em suas línguas antigas, ainda que outros tantos escritos tenham sido destruídos por esses mesmos monges. O poder espiritual era de domínio total da Igreja Católica e o modelo feudo-militar ainda imperava, contribuindo para manter o poder da cristandade quase que intocável.


A hierarquia que mantinha o homem do campo subordinado ao seu senhor, fazia com que camponeses jurassem seguir a Igreja como representante de Deus na terra, como sinal de fidelidade aos seus senhores. Dessa forma, era mantida a cúpula eclesiástica e toda sua estrutura permanecia inabalável. Um exemplo dessa ordem e desse poder, está na coroação do rei Eduardo II, em 25 de Fevereiro de 1308. Eduardo, sexto rei da casa dos Plantagenetas, diante da hierarquia eclesiástica e de toda a nobreza reunida na Abadia de Westminster, prestou juramento respondendo afirmativamente a todas as alegações dogmáticas feitas pelo Arcebispo de Cantuária, o qual ao fim da cerimônia, o coroou rei da Inglaterra. Desta maneira, a Igreja continuava coroando reis e imperadores, mantendo-se forte e como única força unificadora da Europa. A Igreja também era responsável pela convocação e declaração de guerras, as chamadas "Guerras Santas", cujo objetivo em primeiro lugar era assegurar seus interesses econômicos e o monopólio da fé e da religião católica, preservando assim seus domínios. Para esse fim, o Papa Inocêncio III, nos anos de 1208-1209, não exitou em lançar uma nova cruzada. Dessa vez, não foi uma cruzada contra os "infiéis muçulmanos", mas sim contra os próprios cristãos.


A Cruzada contra os cátaros e os albigenses, teve como finalidade combater o mal da "heresia". Os albigenses estavam dominando o Sul da França e conquistando domínios territoriais. Os cátaros, por outro lado, possuíam um estilo de vida baseado na simplicidade, ainda que conservassem uma certa austeridade. Levavam uma vida honesta, voltada para a pregação das Escrituras, o que os fez ganhar rapidamente grande admiração e o respeito de todo o povo. Logo, a Igreja percebeu que se não combatesse aquela "heresia", perderia não só a hegemonia naquela região, como poderia tal heresia se espalhar por toda a França, e dali para outras regiões já cansadas do domínio e poder da Igreja e de seus abusos, o qual mediante o terror, impunha à população o conceito de castigo e inferno pelo descumprimento de seus dogmas, garantindo através do medo, o controle sobre as classes e o poder político, interferindo em questões de Estado, bem como estimulando e fomentando guerras de acordo com seus interesses.


Em 1095, o Papa Urbano II convocou pela primeira vez as Cruzadas, aumentando por consequência o domínio da Igreja Católica que matava com o aval de Deus. Segundo este Papa, podia-se obter o favor de Deus e a salvação, matando e livrando a terra dos "infiéis". Desse modo, a convocação para as Cruzadas foi um sucesso estrondoso, onde nobres de poucas posses, camponeses desiludidos, fanáticos de todas as partes da Europa, aventureiros e homens de guerra, responderam ao chamado do Papa, colocando à disposição seus dotes ao serviço de quem pagasse o valor mais alto. Mais à frente, no entanto, esse movimento provocou importantes mudanças no cenário europeu e contribuiu para a erosão do domínio absolutista da Igreja, principalmente através do surgimento e intensificação das rotas de comércio que trouxe um novo olhar na maneira de enxergar o mundo por esses homens que ao saírem para outras terras, conheceram outras culturas e povos. Neste período, o comércio ganhou uma importante contribuição dos Templários, fazendo surgir um novo segmento composto de comerciantes, cuja pátria estava onde melhor fossem recebidos e onde as chances de lucro lhes fossem mais vantajosas, sem o temor de perderem suas almas e suas bolsas.

Apesar do forte domínio ainda exercido pela Igreja Católica em vários aspectos, foi durante esse período que ela passou a enfrentar resistências. Algumas guerras surgiram, no qual senhores feudais, nobres e camponeses passaram a lutar contra o poder dos papas. Outro desafio enfrentado pela Igreja, veio com os Cavaleiros Templários. Instalados na Terra Santa por volta do século XII, durante as Cruzadas e após a tomada de Jerusalém, os Templários já haviam se transformado em 1300, em uma vasta empresa internacional, atrás apenas do papado em influência e riqueza. Os Templários haviam passado de guerreiros, para um número ainda maior de administradores, burocratas, funcionários, os quais possuíam imensas quantidades de terras, não só no mundo cristão ocidental, mas também no Oriente. 

Os Templários passaram a ter autoridade, tanto na esfera da Igreja Cristã de Roma, como da Igreja Ortodoxa Grega e de Constantinopla. Criavam animais, cultivavam a terra, produziam madeira, além de possuírem navios que transportavam peregrinos de e para a Terra Santa. Deste modo, constituíram um importante poder autônomo, a ponto de fazer a Igreja e os clérigos temerem a sua força. Como se não bastasse, os Templários dominavam as mais avançadas tecnologias bélicas de sua época, bem como seus inúmeros recursos militares, tanto em material como em número de homens treinados, excedendo dessa forma, qualquer outra instituição européia. Eram ainda, os principais banqueiros da Europa, cujas transações financeiras, complexas e sofisticadas, abrangiam desde monarcas e nobres a eclesiásticos e comerciantes. 

Os Templários representavam uma importante força no cenário europeu. Suas atividades ajudaram a mudar as práticas de comércio e abriram uma forte onda de inveja e ambição da Igreja e de alguns sobreanos, entre eles, Felipe, mais conhecido como "Felipe, o Belo". Diante da nova ameaça dos Templários, a Igreja reagiu juntamente com Felipe e os acusou de heresia. Desta maneira, a Igreja conseguiu prevalecer e manter sua unidade ainda por algum tempo, mesmo após o Grande Cisma, até o século XVI quando ocorreu a Reforma Protestante.


Antes da Reforma Protestante, todo o excedente econômico era entregue à Igreja Católica, que tinha a função de distribuir os benefícios aos necessitados, pois era a instituição que monopolizava a interpretação da realidade social, já que era ali que se encontravam os estudiosos e eruditos. Toda a riqueza adquirida acima do necessário para suprir as necessidades dos homens, deveria ir para as mãos dos clérigos que as repassava à sociedade em forma de benefícios sociais e culturais. No entanto, esse repasse não era distribuído em sua integralidade. Apenas uma pequena fração ia efetivamente para esse fim. A Igreja entendia que somente aqueles que realizassem algum tipo de trabalho social em benefício do coletivo, poderia desfrutar de maiores benefícios econômicos. Segundo a Igreja, era inconcebível que o homem visasse o lucro monetário com seu trabalho, pois seus negócios só deveriam custear aquilo que pudesse cobrir a sua produção. Portanto, todo o ganho lucrativo extra era visto como exploração, extorsão, ganância e imoralidade, o que consistia falta grave diante de Deus e por esta razão, sujeito aos castigos do sofrimento eterno.



O Cristianismo abominava a usura e neste contexto, a figura do usurário passou a ser complexa, tendo em vista que a Igreja condenava a prática da riqueza mal adquirida, ou seja, a usura, que segundo eles, feriam a moralidade cristã. Para fundamentar esta posição, baseavam-se em textos das Escrituras Sagradas, mais especificamente no livro de Exodo 22:25, que diz: "Se emprestares dinheiro ao meu povo, ao pobre que está contigo, não te haverás com ele como credor que impõe juros". E também no Novo testamento, que diz: "Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas" (Mateus 6:24). Alguns papas como Urbano III, Gregório IX e Alexandre III, condenavam a usura. Clemente V, no Concílio de Viena (1311-1312) afirmou que: "Se alguém cair no erro de pretender afirmar pertinazmente que exercer as usuras não é pecado, decretamos que seja castigado". Este Concílio, condenava como herege aquele que fizesse uso dos juros nos empréstimos financeiros. Assim sendo, a economia mercantil não podia prosperar entre os cristãos, pois estariam sujeitos aos tribunais eclesiásticos. Esta prática, somente poderia ser tolerada aos não cristãos como os judeus, pelo fato destes não serem cristãos, com acesso restrito aos setores primários da economia medieval, onde lhes era vedado possuir terras ou propriedades, restringindo suas atividades ao comércio e as atividades financeiras, ou usura. 



Alguns senhores feudais que aos poucos se converteram ao catolicismo, doavam terras à Igreja, contribuindo que esta se tornasse a cada doação, mais forte. Esta prática conferia ao doador a isenção de impostos, ao mesmo tempo que obtinha a proteção da Igreja, independente de ser católico ou não. Essa estrutura, integrada ao sistema feudal dos mosteiros, tinha um sistema muito semelhante ao domínio exercido nos feudos. Nestes mosteiros se concentrava a cultura medieval desenvolvida, arquivada e estudada pelos monges e outros religiosos. A Igreja detinha desta forma, o monopólio da cultura, pois os monges eram os únicos que sabiam ler e escrever. Portanto, eram eles quem dominavam. 





Ao final do século XV e no início do século XVI, a Europa já dava mostras de que não suportava mais todo o fardo imposto pela Igreja. A Inquisição já havia começado, deixando à mostra seu rastro de dor, sofrimento e a morte ia se espalhando por todos os lugares. Da Inglaterra, ecoaram vozes como a de John Wycliff pregando a ruptura com a Igreja papal. Os albigenses já tinham sido exterminados e o rei Felipe, o Belo, já tinha imposto uma humilhante derrota à Igreja com a transferência do papado de Roma para Avignon. Alguns papas tentaram implementar reformas no seio da Igreja, embora nunca tenham de fato conseguido levar adiante tais reformas. Era cada vez mais nítida a situação de decadência em que o clero e suas instituições religiosas haviam mergulhado. O Humanismo surgia trazendo consigo a esperança de mudança. A música, as artes e a literatura floresciam por todos os lados. 

Humanistas como Erasmo de Roterdã, pregavam, antes mesmo de Lutero, a necessidade da Igreja fazer uma revisão interna, passando pela autocrítica de alguns de seus dogmas. O abismo entre a instituição religiosa e a nobreza desejosa de se libertar das amarras do catolicismo era cada vez maior. O povo cansado, sem esperanças de viver dias melhores sendo cada vez mais explorado, onde até mesmo para obter o perdão de seus pecados e assim escaparem dos horrores da condenação eterna do fogo do inferno, tinham que pagar pesadas penitências e vultuosas indulgências como ato de contrição. A Europa era um barril de pólvora, prestes a explodir. É neste cenário que surge Martinho Lutero, que com suas 95 teses, forneceu o estopim e a fagulha para que esta explosão acontecesse.






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domingo, 1 de outubro de 2017

Deus Negro?





                                                             * Ele não era assim

Há pouco mais de meio século atrás, o escritor Kersey Graves, criou um enorme furor nos círculos religiosos ortodoxos ao escrever um livro no qual discutia a identidade racial de Yahushua (Jesus), mostrando fortes evidências de que o salvador dos cristãos seria de fato, um homem negro. Numa das passagens do seu livro, ele diz: "Há tantas evidências de que o salvador era negro, quanto o fato dele ser o filho da Virgem Maria que viveu e se moveu sobre a terra. E essa evidência vem do testemunho de seus discípulos, que tiveram a oportunidade de saber como era a sua aparência, ainda que os evangelhos tenham omitido informações a esse respeito".

Na época dos primeiros cristãos, Jesus foi unanimemente representado como negro. Para evidenciar esse fato, as imagens e gravuras davam um tom avermelhado aos seus lábios. Do mesmo modo, fatos narrados na Bíblia Cristã por cristãos ortodoxos, descrevem sua tez como sendo negra.

Uma citação atribuída a Salomão no "Cântico dos Cânticos", diz: "Eu sou morena, porém formosa, ó filhas de Jerusalém, como as tendas de Quedar, como as cortinas de Salomão". (Cânticos 1:5). Essa citação, muitas vezes foi apontada como sendo uma referência a Cristo. De acordo com a Bíblia, Yahushua HaMoshiach (Jesus Cristo) era um homem negro.

Geograficamente, a Belém da Judéia do rei Herodes fazia parte do continente africano, que só foi separado em 1859, quando o Canal de Suez foi construído no território do atual Israel e passou a delimitar áreas diferentes, onde a cultura semita era oposta à dos árabes que haviam ocupado a região anteriormente e que hoje fazem parte da Ásia ou do chamado Oriente Médio.




                                                      *JC segundo a reconstituição de historiadores para a BBC
  
                                        
Assim como os árabes, Jesus compartilhava do fenótipo árabe, que em nada tem a ver com os cabelos louros e olhos azuis com que é retratado e que na verdade são interpretações da arte religiosa que se tornou clássica durante a Idade Média e a Renascença. Ainda segundo a Bíblia, Jesus teria ao menos, cinco mulheres negras em sua genealogia: Tamar, Raabe, Rute, Bateseba e Maria. Já a sua linhagem masculina, vinha dos chamados "Sem", os miscigenados das sociedades africanas. Maria e José, eram denominados como "Negros do Norte da África". Por essa razão, teriam ido para o Egito para fugir de Herodes e assim, poderem esconder o filho entre outros negros e árabes, o que seria impossível passar despercebido, caso Jesus fosse um menino louro e de olhos azuis, vivendo no meio de egípcios, romanos, árabes e judeus.

Certamente, tais questões podem fazer surgir dúvidas na mente de alguns, principalmente entre os mais resistentes que rebateriam essa hipótese com o argumento de que seria necessário uma evidência mais robusta para se chegar a esta conclusão, o que de certa forma é perfeitamente justificável. Porém, em se tratando de questões de controvérsia histórica, apenas a mais cuidadosa consideração das evidências deveria ser o bastante para nos satisfazer, além do quê, a prova iconoclasta dos primeiros quadros e imagens da Virgem Maria e do menino Jesus, os representa com a tez negra, fatos estes apoiados por evidências históricas, geográficas e arqueológicas.

O grande orientalista britânico, Sir Godfrey Higgins, em sua magnífia obra "Anacalypsis: Um Inquérito Sobre a Origem das Línguas, Nações e Religiões", informa-nos que, "em todos os países romanos católicos da Europa, o Cristo e sua mãe eram retratados como negros. Em Igrejas como as de Moulins, Annunciata, São Lázaro, São Francisco em Pisa, de Brixen no Tirol, São Teodoro em Munique e a Catedral de Augsburgo, ainda é possível encontrarmos uma virgem com uma criança negra em seus braços, assim como em inúmeras outras Igrejas da Europa que professam a fé católica.



                                                                                   * Madonas ou Virgens Negras

Apesar dessas imagens terem sido aos poucos substituídas por imagens brancas e colocadas em segundo plano nos lugares mais discretos dos templos, elas continuam sendo reverenciadas como sagradas. Alguns sacerdotes romanos tentam, ainda hoje, disfarçar esse fato, alegando que as imagens enegreceram pela fumaça das velas, mas são incapazes de explicar porque essa mesma fumaça não foi capaz de escurecer o branco dos olhos, dos dentes e dos lábios. Assim sendo, a negritude original dessas imagens se mantém inquestionável.

O jornalista jamaicano, Joel Augusto Rogers, viu um grande número dessas imagens em suas viagens pela Europa, e descobriu que algumas delas possuíam traços africanos, chegando à conclusão que os cristãos primitivos pensaram Jesus como um membro da raça etíope, ou não teriam enfatizado tanto a cor escura da pele do salvador e sua mãe em seus quadros e estátuas.

De acordo com o dogma cristão, Jesus é o filho de Deus. Sendo o filho semelhante à imagem do pai, é razoável supor que Deus também seja negro. Esta conclusão é tão lógica quanto científica. Joseph MacCabe, humanista, orador e ex sacerdote católico, nascido na segunda metade do século XX, acreditava que Jesus fosse um essênio, e certa vez declarou: "Há uma forte razão para pensar que o homem nos primórdios era muito escuro de pele, de cabelos cheios e nariz chato". Ainda segundo ele, uma vez que a Bíblia nos diz que o homem foi criado à semelhança de Deus, sem sombra de dúvida esse Deus deve ser de tez escura com traços inequivocamente africanos.

Nos países ocidentais, surgiram ao longo do tempo, insinuações sutis de que, se os cristãos acreditassem que Jesus era um homem negro, a Igreja Cristã não se sustentaria. Esse pensamento tem a ver com o preconceito de raça. Para eles, um Deus negro não teria absolutamente nenhuma serventia, pelo simples fato de que os próprios cidadãos negros que um dia foram escravizados, não teriam qualquer confiança num Deus de etnia africana. Para justificar esse argumento, seguiram duas linhas de pensamento, a saber, a religiosa e a "científica". A primeira, perpassou pela explicação bíblica que apontava a maldição de Caim, no qual alguns acreditavam haver recaído sobre os negros africanos. A segunda, baseada nas teorias do naturalista Charles Darwin, que defendia a expropriação do continente africano pelo imperialismo, como sendo um sinal do determinismo da supremacia branca.

Seguindo essa linha de pensamento, na hipótese de acontecer um segundo advento no futuro como creem os cristãos, quando enfim chegar o momento de Cristo voltar à Terra como Ele mesmo prometeu que voltaria uma segunda vez, e supondo que Ele venha no caráter de um Messias negro, como Ele seria recebido por aqueles que trazem arraigados dentro de si, o preconceito racial? Estariam os cristãos do mundo todo, preparados para adorar um Deus negro? Poderiam com alegria dizer: "Hosana ao filho de Davi", já que a grande maioria das pessoas ainda tem dificuldades de acreditar no que é plausível, a despeito das evidências históricas e arqueológicas, preferindo acreditar naquilo que lhes traga conforto, por uma simples questão de preconceito?

Apesar das evidências aqui apresentadas, nenhuma delas tem como finalidade trazer convencimento, mas simplesmente fazer pensar e quem sabe, nos levar a rever alguns de nossos (pre)conceitos. Por fim, uma última citação das escrituras, que diz: "E a sua cabeça e cabelos eram brancos como a lã branca, como a neve, e os seus olhos como chama de fogo; e os seus pés, semelhantes a latão reluzente, como se tivessem sido refinados numa fornalha". (Apocalipse 1:15) Ou ainda: "Uma aparência semelhante à pedra de jaspe e de sardônio". (Apocalipse 4:3) Essas citações, nos dão uma ideia bastante clara sobre a cor da pele do Deus Pai e do Deus filho.







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