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domingo, 27 de dezembro de 2015

Tributo às Vítimas de Mariana







Meu povo chora
Suas lágrimas misturam-se à lama
Que depressa tudo levou embora

Meu povo soluça
A dor no peito corta feito faca
É grande demais...nada consola

Meu povo geme
Sofrido e calado mais este pecado
Fruto do abandono, do escárnio, do descaso

Meu povo implora
Eleva os olhos aos céus e numa prece muda
Pede ao Senhor que os acuda

Meu povo sofre
Com coragem segue forte
Pois é guerreiro e guerreiro luta até a morte

Do luto e do pranto surgirá um novo canto
Mostrando ao mundo a força de uma raça
Que não sucumbe ao desencanto

Deus os abençoe com sua Graça








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Lei nº 9.610-98 sobre os Direitos Autorais



















segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Estado Islâmico: Origem, Organização e Radicalismo do Terror






O movimento extremista "Estado Islâmico" (EI) teve sua origem em um grupo armado de jihadistas sunitas radicais, em 2006. Sua criação foi resultado do período de instabilidade política que se instalou no Oriente Médio depois da invasão americana ao Iraque, em 2003. Contudo, o grupo extremista apenas começou a se tornar conhecido no mundo com a tomada de Mossul, em Junho de 2014.


O Iraque, um país de maioria muçulmana, dentre a qual há uma divisão entre uma minoria sunita e uma maioria xiita, viu essa diferença se tornar ainda mais exacerbada após a intervenção dos Estados Unidos da América, em 2003. Posteriormente, o desenvolvimento dessa organização foi favorecido com a admissão de um governo intermediário em que o presidente de origem xiita adotou uma forma de governo sectária e de rejeição das minorias sunitas nos cargos públicos.

O crescente antagonismo entre sunitas e xiitas, estendeu-se além das fonteiras iraquianas e sírias e passou a afetar a política do Médio Oriente, refletindo e estremecendo principalmente as relações entre o Iran, de maioria xiita e a Arábia Saudita, de maioria sunita (que por sua vez jamais aceitou o regime de governo xiita do Iraque após a derrocada de Saddam Hussein). Além disso, o fracasso catastrófico da política americana de "guerra ao terror" no Iraque impulsionou a guerra civil na Síria, criando condições favoráveis para o surgimento, o crescimento e o triunfo do Estado Islâmico. 

O Estado Islâmico conta com o apoio de outras organizações terroristas e vem propagando o terror através da execução de minorias étnicas, grupos religiosos, especialmente cristãos, e sequestro de civis. O grupo utiliza técnicas de tortura extremamente cruéis como decapitações, apedrejamentos, fuzilamento em massa e sepultamento de pessoas vivas. É alimentado pelo ódio às minorias xiitas, yazidis, curdas, aos Estados Unidos e Europa. Tomaram zonas de grande importância econômica da Síria e do Iraque, como a cidade de Mossul, rica em petróleo e dona da maior hidrelétrica do país. O Estado Islâmico vêm recrutando jovens de todo o mundo, de ambos os sexos, que são atraídos principalmente por fóruns na internet.


Os jihadistas do Estado Islâmico tem destruído mesquitas e santuários de importância cultural e religiosa no Iraque, bem como interferido na educação das escolas sírias. Além disso, criam califados nas regiões dominadas, ditando regras de comportamento a mulheres e crianças, incentivando inclusive a mutilação genital feminina, os casamentos forçados e o estupro de crianças e mulheres, muçulmanas ou não.

Na Síria, o Estado Islâmico controla áreas específicas na província de Raqa, cidade ao norte, próximo a Aleppo e na fronteira leste do Iraque, criando um califado nos mesmos moldes do século VII, onde convencem as pessoas recrutadas de que sua filosofia é o caminho certo para a justiça e a felicidade neste mundo e no mundo celestial. Fazem também um intenso trabalho de desconstrução de identidade, levando os soldados a um quebrantamento psicológico, onde depois são submetidos a um rigoroso doutrinamento até que reflitam em seus próprios pensamentos e ações, a imagem do Estado Islâmico.

Desde a proclamação do Califado Islâmico, em junho de 2014 na Síria, mais de três mil pessoas foram executadas, entre elas civis e crianças. O objetivo do Estado Islâmico na Síria é eliminar fronteiras e unir os territórios conquistados na Síria e no Iraque e governá-los por um califa, um único chefe político e religioso. O Estado Islâmico julga-se soberano e superior aos demais muçulmanos por acreditarem que são os verdadeiros seguidores de Maomé. Por esta razão, massacram todos os outros muçulmanos e as minorias étnicas que não compactuam com suas crenças.



A principal finalidade do Estado Islâmico é organizar ataques terroristas no Ocidente, principalmente na Europa e Estados Unidos. Para o Estado Islâmico, todos os povos do Ocidente são infiéis, decadentes morais e religiosos. O recente atentado em Paris que matou 129 pessoas foi o maior atentado terrorista na França, desde a Segunda Guerra Mundial e o segundo maior na Europa depois das explosões que mataram 191 pessoas em Madri, em março de 2004.

Os ataques na França causaram um impacto inevitável sobre as fronteiras, principalmente depois da revelação de que vários homens conectados ao atentado foram presos na Bélgica. Além disso, tais ataques também podem impactar a questão dos refugiados, pois no campo político, todo esse contexto de tensão acaba fortalecendo a extrema-direita e tornando a crise dos refugiados mais complexa. Na Alemanha, a primeira ministra Angela Merkel já começa a sofrer pressões para o fechamento de suas fronteiras, algo que, se concretizado, significará uma derrota política para ela.

Em Setembro de 2014, os Estados Unidos, juntamente com os países da OTAN, decidiram ajudar os combatentes iraquianos organizando uma série de bombardeios contra as instalações militares do Estado Islâmico. Em 2015, logo após os atentados de Paris, França e Rússia bombardearam Raqa. A ONU também aprovou uma resolução convocando todos os países para combater o Estado Islâmico e os grupos ligados a Al Qaeda.

O fim do terror imposto pelo Estado Islâmico pode ainda estar muito longe do fim. Entretanto, as implicações das políticas contraterroristas do Ocidente podem trazer mais tensão para o mundo. O uso de técnicas de inteligência maiores e mais incisivas, aliadas a uma implacável e sólida estrutura militar aérea e terrestre, podem trazer uma série de efeitos colaterais, como a morte de diversos inocentes e o aumento da xenofobia no Ocidente. Sobretudo, é imprescindível que haja extremo cuidado para preservar o Islã, uma religião com mais de 1 bilhão de pessoas, que nada teem a ver com o terror praticado pelo Estado Islâmico.





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quarta-feira, 25 de novembro de 2015

25 de Novembro - Dia Internacional do Combate à Violência Contra a Mulher





Em 1999, a Assembléia Geral da ONU instituiu o dia que ficou conhecido como o "Dia Internacional da Não-Violência Contra a Mulher". A data foi escolhida em homenagem às irmãs da República Dominicana, Maria Teresa, Minerva e Pátria, também conhecidas como "Las Mariposas", que foram cruelmente assassinadas a mando do ditador daquele país, Rafael Leônidas Trujillo. As irmãs Mariposas eram ferrenhas opositoras da ditadura imposta por Trujillo e o preço que pagaram por terem lutado vigorosamente contra este ditador, foi ter suas próprias vidas ceifadas de maneira brutal.

A violência contra a mulher nos dias atuais está tomando proporções alarmantes. A cada dia, mulheres são agredidas ou assassinadas por seus maridos, noivos, namorados que não aceitam o fim de seu relacionamento amoroso, os chamados "crimes de honra", ou mesmo por homens da própria família que deveriam protegê-las, mas que vêem na figura da mulher, um objeto de posse e não um ser humano com direitos e vontades que devem ser respeitados. 

No Brasil, estima-se que 43% das mulheres sofram agressões diariamente. Semanalmente são registrados 35% novos casos de agressão. A cada 11 minutos, uma mulher é violentada no país. No restante do mundo estima-se que 70% das mulheres já sofreram algum tipo de violência física ou sexual, independente de raça, credo e posição social.

Em algumas culturas, a violência contra a mulher além de tolerada, é também incentivada. Em alguns países muçulmanos e africanos, a mutilação genital feminina ainda é uma prática aceitável. Cerca de 3 milhões de meninas e mulheres são mutiladas a cada ano. Para eles, a ablação genital é uma forma de 'atestado' que garante a pureza e submissão de suas mulheres a seus futuros maridos. A cada ano, muitas delas morrem de tétano ou outros tipos de infecção em consequência das más condições de higiene a que são submetidas no momento da mutilação, feita geralmente por mulheres comuns do vilarejo que usam facas, giletes ou cacos de vidro sem nenhum tipo de esterilização. Estima-se que nestas culturas, 100 milhões de mulheres serão vítimas de casamentos forçados na próxima década, o que significa mais mutilações.

A violência física não produz apenas danos à saúde física da mulher, mas também afeta sua saúde emocional e psicológica, deixando em alguns casos, marcas mais difíceis de apagar do que as marcas da violência em seu próprio corpo. Mulheres agredidas física, verbal ou emocionalmente, desenvolvem baixa autoestima, depressão, síndrome do pânico, dificuldade de concentração, insônia, baixa produtividade, além de altos índices de estresse.

A violência contra a mulher é um flagelo social que envolve a todos. Além de ser um problema de saúde pública devido à crescente quantidade de vítimas, os gastos subsequentes para garantir o suporte físico, emocional e psicológico de que necessitam é imenso. O problema exige também uma série de medidas de políticas públicas, onde os legisladores precisam, apoiados pela sociedade, criar leis mais duras e inafiançáveis para estes criminosos. Talvez assim, os potenciais agressores pensem, antes de cometerem esse tipo de barbaridade tão covarde contra a mulher.






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quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Proseando em Verso e Prosa: O Menino da Calçada





O Menino da Calçada

Menino que dorme na calçada
Que sonhos são os teus?
Tua infância foi roubada
Neste mundo de meu Deus

Como qualquer criança
Quer apenas brincar e ser feliz
A realidade matou-lhe a esperança
Do sofrimento já é um aprendiz

Conhece bem a fome e o abandono
Da mãe não se lembra
Do pai nem sabe o nome
Perambula pelas ruas, pobre e desprezado
Na vida se defende ganhando uns trocados

Menino que dorme na calçada
Que triste destino o teu
Perante os céus todos são culpados
Até mesmo eu!

Dorme menino, dorme...
O sono é o teu libertador
Sonha agora com o que quiseres
Nele sorria e esqueça um pouco a tua dor.














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quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Proseando Brasilidade: 8 de Outubro. Dia Nacional do Povo Nordestino








Nordeste do Brasil. Pedacinho de paraíso abençoado por Deus e bonito por natureza. O grande arquiteto do universo esbanjou generosidade ao criar tanta beleza, talvez para compensar e trazer alegria a um povo sofredor que muitas vezes foi esquecido e tratado com desdém e preconceito. 

Admiro e respeito o sertanejo sofrido, mas que na alma ainda mantém a doçura e no olhar, a esperança. Admiro os filhos desse chão que trouxeram um sopro de ar fresco e contribuíram com nossa história, pela sua sabedoria, sensibilidade e beleza. 'Cabras Machos' como Paulo Freire e Gilberto Freyre que revolucionaram a educação e a historiografia brasileira, respectivamente. Euclides da Cunha que com seu "Sertões", revelou o sofrimento, a luta e o racismo sofrido pelo mestiço. Castro Alves, o 'poeta dos escravos'. Zumbi dos Palmares, símbolo de resistência e luta contra a escravidão. Irmã Dulce dos Pobres, Graciliano Ramos e sua trajetória política pautada em integridade e honradez. Ariano Suassuna, João Ubaldo Ribeiro, João Cabral de Melo Neto, Jorge Amado, Nelson Rodrigues, Assis Chateaubriand, Manuel Bandeira, Dias Gomes, Glauber Rocha, José Lins do Rêgo... 

Na música, os admiráveis Belchior, Dorival Caymmi, Djavan, Dominguinhos, Ednardo, Fagner, Elba Ramalho, Humberto Teixeira, Luiz Gonzaga, Gonzaguinha, Zé Ramalho e também o meu amigo do coração, Fred Falcão, brilhante arranjador, instrumentista, poeta, compositor e cantor, que através de suas belas composições, cheias de graça e poesia, encantam a vida da gente com alegria e beleza. 

E o que dizer dos filhos do meu amado Ceará, como Rachel de Queiroz, Clóvis Beviláqua, José de Alencar, Dom Helder Câmara, Capistrano de Abreu, Patativa do Assaré e tantos outros? 

Sim, o Nordeste é um pedaço do paraíso, não somente por suas praias de águas mornas e límpidas, suas areias brancas, dunas, rios, cachoeiras e matas. O Nordeste é um paraíso, principalmente pelos seus filhos que dividiram conosco seus talentos, jóias preciosas que nos permite tocar o céu. O nordestino é acima de tudo, um forte e um povo de coragem. Não devemos aceitar qualquer (pre) conceito por parte de quem desconhece sua história. Mordam a língua os preconceituosos, e reverenciem estes homens e mulheres que nos fazem ter orgulho da nossa terra, do nosso Brasil. 

Não sou filha do Nordeste por nascimento, mas sou filha por adoção. Quando me perguntam se eu nasci no Nordeste, especialmente no Ceará, respondo que não, mas bem que gostaria... 

Dedicado a todos os amigos e familiares nordestinos. Os cabra da gota serena e as muié afeiçoada, apois!






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segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Como Se Deu o Processo de Independência no Brasil Durante o Primeiro Reinado






A independência do Brasil não foi como muitos pensam, uma consequência natural dos fatos vinculados à crise do sistema colonial versus metrópole. Por longo tempo, até a primeira metade do século XIX, a questão da independência esteve limitada à ações regionais. As inconfidências não assumiram papel de destaque na historiografia brasileira em razão do Brasil ainda não ter desenvolvido até então, laços de pertencimento capazes de criar um sentimento nacionalista. A chegada da Corte de D. João VI em 1808, trouxe uma série de transformações à América Portuguesa, através das várias ações estratégicas tomadas por D. João para fugir do Bloqueio Continental imposto pela França e que fizeram com que o Brasil adquirisse o status de Reino Unido de Portugal, e não mais de colônia.

Após o grito do Ipiranga, tanto a imprensa quanto as autoridades, tocavam no assunto de maneira cuidadosa em suas cartas pessoais e correspondências de trabalho. Algumas vezes, ainda insistiam na importância do Reino Unido. Outras vezes, criticavam e relembravam os desmandos e abusos cometidos pelas cortes lisboetas, reafirmando o rompimento como a decisão mais acertada. Um dos argumentos usados para legitimar e manter a separação política foi o de que após a independência, cessaram as rebeliões de rua em cidades como o Rio de Janeiro, onde os negros 'capoeiras' promoviam desordens nas vias públicas. Essas insurreições da população 'de cor' da Corte com suas fugas, ajuntamentos e tumultos, não era apenas uma ameaça, mas uma realidade cotidiana, onde escravos e libertos, participaram com igual intensidade dos movimentos políticos do país
.


A liberdade era o centro das discussões nos espaços públicos no início do século XIX, sobretudo com as medidas tomadas por D. João VI à partir do estabelecimento da Corte no Brasil. A Corte portuguesa, no entanto, negava-se a reconhecer o direito à autonomia do Brasil, sustentando o discurso de que ambos os países faziam parte do mesmo reino com sede em Lisboa, porém tratando as regiões da então colônia, como as províncias existentes em Portugal pelo temor de que após o sucesso da Revolução do Porto em 1820, pudessem se ver novamente dependentes das decisões tomadas no Rio de Janeiro.

As aspirações à autonomia no Brasil passaram a ser vistas como ilegítimas e conspiratórias. Em 11 de fevereiro de 1822, a delegação da cidade de São Paulo tomou assento no parlamento com um projeto para restabelecer os negócios políticos entre Brasil e Portugal. Segundo esse projeto, as duas monarquias permaneceriam unidas, porém com administração, instituições e leis independentes, bem como a possibilidade de cada país poder estabelecer tratados comerciais individuais, além de introduzir relações comerciais mutuamente vantajosas. Os parlamentares paulistas propunham a existência de dois reinos numa espécie de federação, rejeitando desse modo, a tese de ser o Brasil uma província. A polêmica foi grande. Os integracionistas lutaram para desautorizar a comissão formada para estudar os assuntos do Brasil e acabaram por pedir punições à junta de São Paulo, em março de 1822. Capitaneados por Fernandes Tomás, os portugueses assumiram uma postura nacionalista com o objetivo de preservar a hegemonia lusitana e defendiam que caso os brasileiros não se submetessem à Corte portuguesa, deveriam se separar.




Por um lado, as propostas dos parlamentares paulistas ofereciam atrativos para os negociantes da metrópole que visavam a possibilidade de retomada dos monopólios, aliado ao fato de ainda considerarem o Brasil uma província, o qual poderiam enviar suas tropas para defender suas consignações no Nordeste, sobretudo em Pernambuco. Por outro lado, os integracionistas falavam em separação em nome da dignidade nacional e acenavam com a possibilidade de provocar desastradamente uma ruptura e isso a burguesia mercantil metropolitana não poderia admitir, uma vez que visavam não somente recuperar o monopólio, mas também buscar novos mercados e novas fontes de acumulação de capital, através do envolvimento com o mercado brasileiro e o tráfico de escravos.


O clima tenso entre os que defendiam suas posições fez com que deputados e jornalistas brasileiros começassem a clamar por uma assembléia própria e uma constituição específica para a América, a exemplo do que a Espanha havia feito com as suas colônias. Para os brasileiros, aceitar a submissão significaria a recolonização, ao passo que contrariar a Corte portuguesa, significava a independência. Ainda que a última alternativa fosse considerada como sinônimo de liberdade e autonomia, os brasileiros ainda não queriam um país totalmente liberto dos laços com Portugal pelo fato da independência não ter sido pensada e amadurecida como um rompimento. As ações foram sendo tomadas pelos "homens bons" desejosos de garantir e proteger a causa da liberdade que pouco tempo depois, foi transformada em causa da nação e mais tarde, em causa do Brasil. Na ótica de quem via o mundo pelas lentes americanas e não portuguesas, só a permanência do príncipe regente seria capaz de congregar os interesses de alguns como sendo de todos, depois de constatada a impossibilidade da união do projeto do império luso-brasileiro.


O constante medo da anarquia e das rebeliões de rua pela parcela negra da população, fizeram com que os políticos brasileiros invocassem em sua defesa os discursos sobre a barbárie dos africanos e dos negros em geral, através dos episódios sangrentos que sacudiram São Domingos em finais do século XVIII e início do século XIX. Os membros da Corte portuguesa, por sua vez, também se utilizaram desse discurso em suas tribunas para fazer ecoar suas ameaças de deixar o Brasil entregue à própria sorte e deixar a população branca, livre e bem nascida, à mercê da 'sanha' dos negros bárbaros. Tais vociferações, entretanto, faziam parte de um jogo teatral do lado português.


A população pobre e desvalida esteve maciçamente presente durante esse processo, conduzindo de maneira conjunta e efetiva os fatos. Gritando palavras de ordem em defesa uns dos outros, incitavam atitudes diferenciadas de acordo com as circunstâncias daquilo que estava em jogo. Juntamente com o povo, havia a participação de tropas composta por batalhões de libertos que viam na corporação uma oportunidade de conquistar autonomia, bem como a participação de escravos fugidos que dessa forma, tinham a chance de conquistar a alforria. A conquista da autonomia era também a esperança de estrangeiros e portugueses pobres que viviam na Corte e que de igual modo, se engajaram ao movimento formando fileiras menos qualificadas. Para a maioria das pessoas que compunham o povo, liberdade traduzia-se em pequenos atos do cotidiano que aos poucos foram tomando forma, ao longo do século XIX e foram se constituindo em direitos maiores vinculados à cidadania que no Brasil só passou a ser chamado de "direitos civis" em 1917, muitos anos depois da abolição.


A independência, à princípio assumiu um caráter de revolução com finalidades e perspectivas contraditórias. Para os negros e mestiços foi uma luta contra os brancos e seus privilégios. Já para os brancos despossuídos, significou uma subversão da ordem, uma promessa de emancipação, através da eliminação das barreiras de cor e a possibilidade de realizar a liberdade numa sociedade ainda contraditória, onde os elementos da classe senhorial continuavam interessados a ser senhores de terra e de escravos. Dessa forma, a independência não foi revolução nem ruptura, mas um processo de continuidade civilizatória iniciado pela metrópole. A emancipação, fruto de uma discordância agravada com o tempo pelos habitantes do Brasil para com as medidas recolonizadoras das Cortes, forçou D. Pedro I a agir para preservar a integridade do Império e a permanência dos privilégios conquistados pela aristocracia rural. Após a declaração da independência, optou-se pela continuação do sistema monárquico para assegurar esses privilégios.






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terça-feira, 1 de setembro de 2015

Pequeno Dossiê da Inquisição na Europa Durante a Idade Média






A Inquisição na Espanha

No ano de 1478, o Papa Sixto V assinou uma bula, através da qual foi fundada uma nova inquisição na Espanha. Esta bula se referia às petições dos reis católicos, enfatizando normas quanto à difusão das crenças entre os judeus convertidos ao cristianismo em Castela e Aragão. Centenas de acusados foram detidos e obrigados a renunciar à fé judaica para assumir publicamente a fé católica, tornando-se um novo converso. Entre os cristãos novos encontravam-se os mais ricos e nobres da cidade. Muitos fugiram para outros países, como Portugal e Norte da África, evitando assim, os tribunais da inquisição que os julgaria de infidelidade e heresia.

Em 13 de Março de 1490, a situação se agravou ainda mais contra os judeus. Alguns deles realmente se converteram ao catolicismo. Porém, outros que se diziam conversos, continuavam com suas práticas religiosas em oculto. Muitos se recusavam a aceitar a conversão forçada e fugiam. A pressão da Igreja para que se convertessem crescia cada vez mais e se um judeu aceitasse se batizar no catolicismo, poderia garantir um futuro seguro juntamente com mouros, visigodos e celtas que também habitavam a Península Ibérica. Estes judeus começaram então a sofrer um processo assimilativo, tornando-se cidadãos comuns. No entanto, os demais judeus que assumiram um catolicismo de fachada, tornaram-se vítimas de processos inquisitoriais e cunhados pejorativamente de "Marranos". Estes judeus tinham seus pertences confiscados e seus bens eram vendidos para pagar suas despesas na prisão. 

Estima-se que em 1480, mais de mil e quinhentos judeus foram queimados vivos na fogueira, amarrados em estacas como consequência de delações e falsos testemunhos. Os judeus que não confessavam arrependimento eram condenados à morte e os que conseguissem escapar desta condenação pela absolvição, saíam da prisão na mais absoluta miséria. 

Após o casamento da rainha de Castela com o rei de Aragão, vários decretos passaram a proibir o judeu converso de ocupar cargos públicos, bem como obter qualquer privilégio do estado espanhol. Finalmente, o decreto de expulsão de 31 de Março de 1492 promulgado pelos reis católicos, passou a obrigar o judeu que não se convertesse a deixar a Espanha em quatro meses.


A Inquisição em Portugal

Até fins do século XV, os judeus viveram em relativa paz social, tanto com celtas e visigodos, quanto com árabes e cristãos, chegando mesmo a alcançar significativas projeções no reino português. Porém, estas relações de boa convivência se deterioraram com a chegada de fugitivos da inquisição espanhola que haviam sido expulsos pelos reis católicos.

O Tribunal do Santo Ofício foi criado em Portugal unicamente por causa da questão judaica, onde os judeus mesmo forçados a adotar o catolicismo continuaram a preservar suas tradições religiosas, filosóficas, éticas e políticas. Oficialmente, o tribunal da inquisição começou no reinado de D. João III e era composto por padres, bispos, clérigos e alguns cristãos de absoluta pureza de sangue. Por se tratar de um cargo muito ambicionado, precisavam cada vez mais de "hereges" para mantê-lo. Para isso, qualquer prática, qualquer palavra ou gesto impróprio poderia ser considerado herético, pois quanto mais hereges fossem denunciados, mais a inquisição sobrevivia e se fortalecia. 

Quando a denúncia era feita ao tribunal o acusado era imediatamente preso e seus bens eram confiscados. Era chamado também a algumas audiências onde era coagido a confessar sua culpa, mesmo sendo inocente. Eram torturados e forçados a entregar pais, irmãos, vizinhos e suas mulheres eram atiradas à fogueira, acusadas de feitiçaria. 

Entre os portugueses condenados pela inquisição por heresia, encontrava-se Fernão de Pina, cronista-mor do reino e guarda-mor da Torre do Tombo, e também Damião de Góis, historiador e humanista, ambos denunciados e acusados por serem luteranos. Os portugueses, no entanto, foram mais perspicazes que os espanhóis, pois proibiam os judeus de deixar Portugal para não desmantelar a situação financeira e comercial do país, tendo em vista que os judeus em sua maioria eram prósperos. As condenações também foram mais brandas que na Espanha, pois geralmente condenavam os acusados do sexo masculino somente à prisão, poucas vezes condenando-os à morte como os espanhóis. 

O braço da inquisição portuguesa estendeu-se também ao Brasil. Os judeus que ali viviam, quando acusados eram julgados e após serem sentenciados eram enviados à Lisboa, onde eram encarcerados por meses ou anos e seus bens eram entregues à Igreja ou à Coroa. Esses judeus acabavam se transformando em mendigos, e muitos deles acabaram sendo levados à loucura.


A Inquisição na França

No século XI, apareceu no Sul da França, o "catarismo" ou "movimento dos albigenses". Os cátaros rejeitavam não somente a face visível da Igreja, mas também instituições como o matrimônio e o serviço militar. Por isso, constituíam grave ameaça não somente à fé cristã, mas também à vida pública. 

Apoiados por uma parte do povo e pelo conde de Toulouse, ganharam ainda mais confiança e provocaram diversos tumultos. Em contrapartida, tiveram suas casas destruídas e seus bens confiscados, resultando daí várias revoltas. Em 1242, começou uma guerra que só terminou com a intervenção do exército de Luís IX. 

Os hereges cátaros não somente foram punidos, mas também inquiridos pela inquisição. Os condes, barões e as demais autoridades civis já não os podiam ajudar sob pena de perder seus cargos ou ver o interdito lançado sobre suas terras por estarem sujeitos à acusação de catarismo. Assim, o conde Foix que até então, apoiava os cátaros, tornou-se um ardente apoiador da inquisição. Os hereges presos ou abjuravam ou eram entregues ao braço secular que lhes imporia a sanção devida. 

Os abusos impostos pela inquisição começaram a causar escândalo e as reclamações chegaram a Felipe, o Belo, que impôs limites às investigações e com sua intervenção restringiu o poder dos inquisidores que não podiam mais decidir nada sem o consentimento de um Bispo. Porém, algum tempo depois, Felipe, o Belo, teve de usar a inquisição contra os Templários, unicamente por caráter político. 


A Inquisição na Itália

Em 1542, a inquisição foi restabelecida como órgão oficial da Igreja, revigorada e dirigida por Roma através do Santo Ofício. Seu objetivo era deter com violência o avanço da Reforma Protestante na Europa. Sem poder unificar a Itália, a Igreja pretendia assumir sua alta soberania. O acordo político com Veneza foi primordial para o sucesso de seus planos, entre os quais, sagrar a papa alguns de seus membros, como os papas Pio V e Sixto VI.

Em 1566, Pio V adotou o princípio de que os acusados pela inquisição mesmo sendo absolvidos, poderiam se tornar suspeitos novamente. 

Entre os que foram perseguidos pela inquisição em Roma encontrava-se Galileu Galilei, físico italiano que fez numerosas descobertas nos campos da Física e da Astronomia. Suas descobertas e ensinos foram considerados heresia pelos censores romanos, em especial pela tese de que o sol era o centro do universo e que na verdade era a terra que girava ao seu redor. Doente e preso em Roma, combalido e ajoelhado diante dos representantes do papa Urbano VIII, ele leu e assinou sua retratação. 

Em 1998, o papa João Paulo II reconheceu os abusos cometido pelos 'filhos' da Igreja católica contra Galilei e pediu perdão em nome da Igreja. No entanto, não reconheceu os erros cometidos pela inquisição contra todos os demais que sofreram seus horrores.






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quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Políbio - Historiador Grego






Políbio, historiador grego, nasceu no ano 200 a.C na cidade de Megalópolis, região da Aquéia, no Peloponeso. Acompanhou de perto alguns episódios da história romana que culminou com a consolidação deste império, após a destruição de Cartago, Corinto e também a conquista do que restara da Grécia, estabelecendo assim seu domínio global. Estes acontecimentos levaram Políbio a escrever uma história de caráter universal, abandonando o procedimento predominantemente adotado por outros historiadores de seu tempo que tratavam basicamente de assuntos relativos à certas regiões ou pólis. A sua história ocupou um lugar de destaque na evolução da historiografia à medida em que foi Políbio quem deu continuidade ao processo de evolução do gênero histórico iniciado por Tucídides.


O aspecto de maior importância que o distinguiu de seus predecessores foi a intenção de escrever uma história pragmática, ou seja, voltada especificamente para sua época, expondo os fatos ocorridos sem retórica, de forma objetiva, de caráter essencialmente político e militar. Políbio enfatizava que o propósito do historiador era o de convencer o outro da verdade, através da imparcialidade e do não envolvimento com os fatos que iria discutir ou expôr.

No que diz respeito à história, Políbio preocupou-se com a etiologia dos acontecimentos à medida que distinguia a causa de um fato histórico do seu começo (arkhé) e pretexto (prôphasis). Políbio também se preocupou com a veracidade dos relatos históricos como nenhum outro. Segundo ele, a "precisão do relato é o que faz a narrativa realmente útil para o leitor que a usa como manual de conduta para a vida pública".  Ainda segundo ele, a pesquisa dos fatos não deveria se dar apenas pela averiguação de documentos, mas principalmente através do testemunho ocular que fortalecia a narrativa pela profundidade e comprometimento com a verdade. Esta importância do estabelecimento da verdade está diretamente ligada à ideia de história pragmática. Por estas razões, suas histórias tornaram-se uma espécie de paradigma historiográfico.


Políbio, recomendava "uma acolhida favorável" ao estudo dos tratados do passado, que segundo ele, era fundamental para que os homens tivessem conhecimento de seu passado, o que funcionaria como uma espécie de corretivo. Políbio reprovava o fato dos gregos não conhecerem a história dos conquistadores romanos que acabaram por dominá-los. Para ele, somente pelo estudo das particularidades, semelhanças e diferenças (através da comparação de fatos distantes cronológica e geograficamente) os teria capacitado a fazer uma apreciação geral e dela tirarem proveito e prazer da história, além do fato de terem renegado a fragmentação dos eventos históricos, movidos pela intenção de construir uma história global,  já que para ele "as histórias parciais contribuíram muito pouco para o conhecimento do todo e para formar uma convicção quanto à sua veracidade".


Políbio dizia que existiam três elementos principais para compôr a autoridade de um historiador: a pesquisa de documentos, a consulta de testemunhas, a experiência política, militar e também social, bem como o conhecimento do espaço geográfico das regiões, cidades, mares e rios. A história, segundo ele, deveria ser universal em virtude de um mundo que se tornava cada vez mais coeso, onde um fato ocorrido em uma determinada região, poderia afetar outras regiões distantes.


Políbio foi o responsável direto pela aplicação de idéias políticas num momento histórico ao descrever o funcionamento do que denominou "Constituição Mista de Roma", onde fez uma exposição detalhada da constituição romana a que chamou de "mista", explicando como e por que esta se consolidou, tornando-se o fator mais importante da força e estabilidade de Roma. Ainda segundo ele, a constituição de um povo é a causa principal de seu sucesso ou infortúnio e este pensamento, serviu de base para que Políbio explicasse a importância e o sucesso político que a constituição romana trouxe a este povo que em menos de 53 anos, conquistou e dominou todos os outros estados.


Teorias constitucionais fizeram parte do pensamento grego e Políbio teceu algumas considerações sobre as constituições em geral. Para ele, existiam três formas de governo boas (realeza/aristocracia/democracia) e três formas de governo más (tirania/oligarquia/oclocracia) que se sucediam umas às outras e constituíram assim, um ciclo repetitivo no tempo quando por exemplo, em um determinado período, a sociedade já fragilizada foi dominada pelo despotismo e mais tarde, quando sentimentos de dever e justiçam afloraram, fizeram surgir uma monarquia que após algum tempo se corrompeu e se transformou numa forma tirana de governo que fez com que a sociedade se revoltasse, tomasse o poder e instituísse uma aristocracia. Como resultado do princípio da anaciclose, a sociedade voltou ao ponto inicial, sem noção de certo e errado. Políbio teve motivos para apresentar esta concepção para mostrar a evidente instabilidade das constituições simples, onde a saída seria a constituição mista para pôr fim a este ciclo. Para ele "era impossível prever os acontecimentos futuros e deduzir o que aconteceria a uma determinada sociedade à partir do ponto institucional em que se encontrava".


No século V a.C. os romanos conseguiram passar por esse processo e consolidaram um governo constituído equilibradamente entre os três poderes representativos das formas boas de governo: A Monarquia, definida por Políbio como o governo do mais forte que contrabalançou as três instituições que as representava (monarquia/aristocracia/democracia) evitando que uma prevalecesse sobre a outra, ou seja, o poder de cada um era controlado pelo outro).


A constituição mista com o fim de promover a estabilidade, contou com um sistema de freios e contrapesos que se contrapuseram  e cooperaram entre si ao mesmo tempo. A estabilidade foi alcançada através de um equilíbrio de forças acionadas por diferentes agências políticas que passaram a crescer juntas. Outro fator que também determinou para esse equilíbrio e o controle da sociedade foi a coerção psicológica do medo. O medo de algum perigo externo os compeliu a esquecerem suas diferenças, o que fortaleceu o vigor interno da República. Do mesmo modo, ao contrário, quando não houve riscos externos, os cidadãos se acomodaram, ficaram menos solidários entre si, tornaram-se frívolos, vaidosos, insolentes e correram o risco de uma dissolução interna. O medo imposto pela religião, que em Roma era dirigido pelo estado que unia e controlava as massas através do temor dos deuses, tornaram os cidadãos comuns mais rigorosos nos compromissos assumidos nos negócios e bens públicos.


Para Políbio, a participação do povo no governo foi o fato mais importante sobre todos os aspectos, pois trouxe coesão aos reinos, às repúblicas e à convivência humana. A capacidade de colaboração e superação dos obstáculos por parte dos membros deste poder (cônsules/senado/povo) ao mesmo tempo unido e disciplinado, reuniu o equilíbrio de forças desta constituição, onde não existia poderes absolutos. O caráter de seu povo, a solidez de suas instituições, juntamente com a habilidade militar de Roma, foram os fatores determinantes que fizeram do estado romano, uma potência.






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