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sábado, 24 de novembro de 2018

O Socialismo na Europa Como Referência Doutrinária na América Latina



A ideia de socialismo surgiu na Europa por volta do século XV à partir do crescimento das revoltas camponesas na Alemanha e na Inglaterra, como resultado das precárias condições de trabalho, baixos salários e extenso ritmo de produtividade. Porém, a sistematização do conceito de socialismo em sua versão mais utópica de organizar a sociedade, tendo como base a distribuição igualitária de riquezas, surgiu nos séculos XVI e XVII, ganhando força no século XIX com o socialismo científico apregoado por Marx e Engel.

Para Marx, o socialismo só poderia ser construído e conquistado pela classe dominada, o proletariado, que deveria formar uma sociedade que aboliria a propriedade privada e a exploração da classe operária. Marx, porém, reconhecia o caráter social da produção e por isso mesmo, defendia a socialização desses meios de produção, consequentemente extinguindo as classes e assegurando desse modo, a existência de uma nova sociedade igualitária nos moldes de produtividade capitalista, no qual o Estado seria o detentor dos meios de produção e distribuição de riquezas. Apesar do caráter indiscutivelmente revolucionário desse princípio, nem Marx e nem Engel, apontaram meios para desenvolverem o processo de socialismo teorizado por eles.



A identidade e a unidade da esquerda européia foram sendo desmontadas aos poucos, durante o século XX, por conta das sucessivas revisões doutrinárias e estratégicas de caráter marxista. Após a desconstrução do materialismo histórico, nenhuma outra teoria surgiu com capacidade lógica para definir estratégias e interesses. Juntamente com o desgaste teórico e racional do materialismo histórico que geraram intermináveis discussões doutrinárias sobre a própria identidade do socialismo, a falta de posições estruturais e ausência de pontos de vista ético, serviram apenas para aumentar ainda mais as divisões internas da esquerda, criando ao longo do século XX, um verdadeiro "Frankstein" amórfico, repleto de teorias e contradições que consequentemente deixaram como herança o aprisionamento e a estagnação da esquerda no século XXI.


Apesar da visível debilidade na maioria dos países europeus que o adotaram, o socialismo de esquerda cresceu e passou a ser a principal referência doutrinária dos países latino americanos pouco desenvolvidos. Na prática, entretanto, sua performance foi pouco inovadora e se manteve dentro dos limites estreitos da teoria militante do imperialismo de Lênin e da teoria da revolução democrático-burguesa de Kautski, com a diferença de que em relação aos europeus, a esquerda latino americana pensava o desenvolvimento das forças produtivas capitalistas como um caminho de transição para o seu objetivo final: A implantação definitiva do socialismo de esquerda.


A política comunista do nacional-desenvolvimentismo foi mais profundo e duradouro no Brasil e no Chile. No Brasil, o fracasso da Aliança Nacional Libertadora (ANL), durante a rebelião comunista de 1935 e o golpe de estado de 1937, deram origem ao Estado Novo, um Estado totalitário governado por Vargas, um ditador conservador que deu abertura para que os comunistas brasileiros se aproximassem e assim apoiassem  seu plano de desenvolvimentismo tradicionalista e autoritário, que à partir dali ganhou força e o fez prosseguir com seu programa de reformas populistas de "democratização" da terra, das riquezas e dos sistemas educacional e político. Um programa de governo que se prolongou por décadas e somente  foi interrompido com o episódio do golpe militar.

A esquerda brasileira voltaria timidamente à cena política na década de 80. A maior parte de sua militância, entretanto, tinha como característica um forte viés antinacionalista, antidesenvolvimentista e antiestatal. Alguns de seus componentes passaram a migrar para "comunidades de movimentos e partidos de base", onde uma parte se manteve a favor da social-democracia na luta pelo poder do estado, contrário às políticas desenvolvimentistas, mas favorável à implantação de reformas e políticas neoliberais; enquanto outros optaram por  resgatar a linha do socialismo utópico.

A globalização, como um fato promissor e sua política de abertura das fronteiras nacionais e interdependentes, não mais justificava políticas e ideologias nacionalistas e populistas. Enquanto a esquerda neoliberal na Europa governava sociedades que se mantinham ricas e homogêneas, apesar das crises e do desemprego, possuindo mecanismos de proteção social, a América Latina com sua sociedade heterogênea e excessivamente desigual, com seus bolsões de miséria colossais, prosseguiam com seus mecanismos de proteção social desigual.

A esquerda latino-americana dos anos 2000, no campo teórico substituiu o conceito de "sociedade de classes" pela "sociedade em redes", trocando as críticas ao imperialismo, pela defesa do "desenvolvimento associado", com exceção apenas dos países governados por regimes totalitaristas e ditatoriais que ainda insistem em manter o povo aprisionado em uma matrix megalomaníaca e corrupta, gerando efeitos cada vez mais catastróficos, aprofundando o fosso do baixo crescimento econômico, aumentando as mazelas e as desigualdades sociais.

Principais Diferenças Entre os Países Socialista na Atualidade



China - Possui um sistema controverso à ideia que se tem de socialismo. Economicamente é o que se encontra em melhores condições por sua economia vasta e abundante, com grande demanda de matérias primas que lhe confere um crescimento assombroso.

Coréia do Norte - Apesar de seu desenvolvimento bélico, sua população é uma das mais atrasadas humana e tecnologicamente, vivendo em condições miseráveis e de extrema dificuldade.

Cuba - Após o colapso da União Soviética, deixou de receber ajuda significativa. Hoje se vê obrigada a abrir-se ao turismo para aquecer sua economia.

Venezuela - Governada por Nicolás Maduro, possui uma política enraizada de ameaça à independência e às liberdades. Com sua política que justifica o poder político absoluto, foi o primeiro governo de tirania no Continente. Criou o "Vice-Ministério da Felicidade Suprema", que supostamente se encarrega de "conceder" a felicidade ao povo, contrariando e violando o princípio básico de liberdade.e dos direitos individuais. Tem na milícia bolivariana o braço para garantir a força moral, a ordem e o poder interno. Com uma base de governo nacional-socialista, desconhece a propriedade privada, além de impor a censura.

Vietnã - De economia basicamente agrícola, ainda enfrenta dificuldades. Porém, tem sido apontado como sendo uma das economias mais promissoras num futuro próximo.






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domingo, 21 de outubro de 2018

Um Breve Resumo do Fascismo e Suas Características




Fascismo, nacionalismo e totalitarismo, andam de mãos dadas. Fascismo acredita que o caos e a violência são necessários para se manterem no poder. Fascismo reforça maciçamente a ideia de que, os verdadeiros patriotas são aqueles dispostos a matar e a enxergar como inimigos os que não se alinham com sua ideologia ou ameace tomar-lhes o poder. Fascismo precisa e tem uma sede insaciável por esse poder e um medo terrível de perdê-lo. Para legitimar seus feitos, o fascismo se utiliza do argumento de que, para haver uma solução viável no estado de direito democrático, ações drásticas e violentas são aceitáveis, ainda que essas ações firam a moral e a integridade humana. Fascismo cresce no caos, do quanto mais caos, melhor. Fascismo é o responsável pelo êxodo na Venezuela e foi responsável também pelos maiores genocídios da história: revolução russa, nazismo, genocídio em Ruanda...

Uma das características mais identificáveis do fascismo, reside em colocar à prova os limites do poder. À medida que dá um passo na direção do autoritarismo, na verdade quer saber até onde consegue ir para estender seus tentáculos de dominação.  Portanto, neste cenário sombrio que o Brasil está vivendo, é preciso muito cuidado e cautela. Talvez a idolatria cega por aquele "líder" corrupto e falacioso a quem muitos tem se dedicado e dado seu tempo, seu sangue e o seu melhor, acreditando no discurso utópico de que ele vá restabelecer a "ordem democrática" e assim possibilitar seus anseios, não passe de um fascista a quem cegamente muitos tem lambido as botas.






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domingo, 9 de setembro de 2018

Museu Nacional do Rio de Janeiro - Um Tesouro Perdido






O Museu Nacional foi até a semana passada, um dos museus mais antigos de antropologia, ciência e história natural das Américas. Localizado no interior do parque da Quinta da Boa Vista, na cidade do Rio de Janeiro, e instalado dentro do Palácio de São Cristóvão, serviu como residência da família real portuguesa entre os anos de 1808 à 1821 e, mais tarde, da família imperial, que ali viveu entre 1822 e 1889.



O Museu foi a sede da primeira assembleia constituinte republicana nos anos de 1889 à 1891. Em 1892, foi alçado ao status de museu, abrigando um acervo de mais de 20 milhões de itens coletados através de doações, permutas e escavações por mais de dois séculos. Continha registros importantes de elementos de ciências naturais, antropológicas e também das culturas brasileira e de civilizações antigas. O acervo estava dividido em coleções nas áreas de antropologia, arqueologia, biologia, botânica, etnologia, geologia, paleontologia e zoologia, possibilitando a realização de pesquisas no meio acadêmico que puderam assim, desenvolver atividades em todo o país e também fora dele, como no Continente Antártico. 

Durante o final do século XIX, destacou-se como sendo o museu mais importante da América do Sul. Em 1946, o museu foi incorporado à instituição de ensino, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que passou a ser o gestor e administrador dos recuros financeiros do museu até os dias atuais. O museu possuía uma das maiores bibliotecas especializadas em ciências naturais, com mais de 2.400 obras raras e 470.000 volumes







Em 2 de Setembro de 2018, um incêndio após o encerramento do horário de visitação, pôs fim a mais de 200 anos de memória, história e patrimônio cultural brasileiro e de itens doados das culturas egípcia, greco-romana e pré-histórica, por falta de suporte do governo brasileiro que não enviava as verbas necessárias para as manutenções básicas do museu, que vinha sofrendo com a deterioração de boa parte do imóvel pela ação do tempo, e também carecia de objetos de segurança suficientes, tornando-o vulnerável e incapaz de se proteger em caso de incêndio.

Os anos de descaso que o governo federal apresentou face ao Museu Nacional, um dos mais importantes ícones da história brasileira, palco das mais importantes decisões que mudaram a história do Brasil colônia e Império, é apenas mais um retrato da decadência de um país governado por corruptos demagogos e populistas, que não se importam e não compreendem que a cultura, a memória e a história de um povo, são sagradas.






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domingo, 10 de junho de 2018

10 de Junho - Dia de Camões, de Portugal e das Comunidades Portuguesas






Luís Vaz de Camões, poeta e soldado português, é considerado há várias gerações como o maior poeta de língua portuguesa e um dos maiores poetas da humanidade, representante da literatura mundial. Sua genialidade tem sido frequentemente comparada a Cervantes, Dante, Virgílio, e até mesmo a Shakespeare.

Camões escreveu poesias, epopeias e obras de dramaturgia que fizeram dele um poeta múltiplo, sofisticado e por que não dizer, célebre em sua época, uma vez que suas obras foram inspiradas em cantigas e versos populares que lembravam as antigas composições medievais. Com sua habilidade e criatividade poética, Camões soube explorar diversas formas de composição. Seus versos deixam transparecer que foi um amante dos estudos clássicos da Antiguidade e um admirador dos humanistas italianos. Dentre suas obras, "A Epopeia" e "Os Lusíadas" foram as mais renomadas e significativas.


Pouco se sabe sobre a data e o local exato de seu nascimento. Sabe-se apenas que provavelmente tenha nascido no ano de 1524. Sua família, de origem galesa, teria fixado residência em Vilar de Nantes, freguesia do conselho de Chaves. Mais tarde, teriam se mudado para Coimbra e Lisboa, cidades que respectivamente reivindicam ser o local de seu nascimento.

Viveu em Lisboa entre os anos 1542 e 1545. Foi durante este período que se interessou por literatura, iniciando sua carreira de poeta lírico na corte de D.João III. Foi também nessa época, que viveu uma vida boêmia e passou por uma desilusão amorosa que o levou a se alistar como soldado e embarcar para a África, onde lutou na guerra contra os Celtas, no Marrocos. Nesse local, durante uma batalha, perdeu o olho direito. De regresso à Lisboa, anos mais tarde, retornou a vida boêmia e promíscua, vivendo grandes amores com damas da corte.


Em 1553, embarcou para as Índias, alistando-se na armada de Fernão Alvares Cabral. Em Goa, tomou parte da expedição do vice-rei D. Afonso de Noronha e lutou contra o rei de Chembre, conhecido como "o rei da pimenta". Após um período na prisão, fixou-se em Goa. Ali, escreveu a maior parte de sua obra épica "Os Lusíadas", onde destacou e exaltou as conquistas ultramarinas, os feitos dos guerreiros portugueses por mares nunca antes navegados, as conquistas das novas terras e o encontro com povos e costumes diferentes. Estudou a cultura, a história e a geografia dos cristãos e hindus locais. Em sua obra, usou  modelos da mitologia clássica para cantar os acontecimentos de seu tempo, fazendo com que entidades mitológicas participassem das ações. Vênus foi retratada como sendo a protetora dos portugueses. Foi ainda em Goa que Camões sofreu um naufrágio e conseguiu nadar com o manuscrito dos Lusíadas em uma das mãos, salvando dessa maneira, aquela que foi uma de suas obras mais importantes. 

Ao retornar à Portugal, decidiu publicar sua obra e recebeu uma pequena quantia em dinheiro do rei D. Sebastião. No entanto, Camões nunca teve o reconhecimento que merecia e passou por grandes problemas de ordem financeira. Morreu em Lisboa, pobre, vitimado pela peste, em 10 de Junho de 1580. Após sua morte, suas obras passaram a ser o centro das atenções e sua genialidade foi finalmente reconhecida.

O dia de Portugal, celebrado em 10 de Junho, é uma homenagem ao poeta que, sem dúvida, foi o maior representante da literatura mundial de todos os tempos.




Amor é um fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente,
É dor que desatina sem doer. 
É um não querer mais que bem querer; 
É um andar solitário entre a gente, 
É nunca contentar-se de contente; 
É um cuidar que ganha em se perder. 
É um querer estar preso por vontade; 
É servir a quem vence, o vencedor. 
É ter com quem nos mata, lealdade. 
Mas como causar pode ser seu favor 
Nos corações humanos amizade, 
Se tão contrário a si é o mesmo amor? 

Luís Vaz de Camões, em "Sonetos"







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terça-feira, 31 de outubro de 2017

Reforma Protestante: A Ruptura da Unidade Cristã




Palácio dos Papas - Avignon.


A Igreja Católica na Idade Média viveu o apogeu de seu poder político, econômico e dominante sobre a sociedade feudal. Regulava quase que a totalidade da vida cotidiana das diferentes classes sociais, não obstante aos muitos contratempos e reveses que sofreu. Um desses contratempos, foi a transferência do papado de Roma para Avignon, pelo rei Felipe IV da França, que desejoso de ter o domínio sobre o clero e suas finanças, devido às grandes somas de dinheiro que eram enviadas de toda a Europa para o papado, e principalmente pelo fato da França estar em guerra com a Inglaterra, resolveu consagrar um papa francês, permitindo assim, obter o controle político mais facilmente. Apesar deste período ter ficado conhecido como "cativeiro babilônico" e das sucessivas divisões que surgiam dentro do seio da Igreja, esta prosseguia como instituição dominante. 

Alguns historiadores, como Will Durant, em seu livro, "A Reforma", nos mostra um quadro de atividades em que a arte e a música dependiam da cristandade para sobreviver e existir, passando pela filosofia, matemática, astronomia e outras ciências que eram patrocinadas pela Igreja. Os humanistas, intelectuais que surgiram na Itália em fins do século XIII, só puderam resgatar as línguas oficiais do latim e do grego porque monges dedicados cuidaram de preservar intactos centenas de milhares de escritos em suas línguas antigas, ainda que outros tantos escritos tenham sido destruídos por esses mesmos monges. O poder espiritual era de domínio total da Igreja Católica e o modelo feudo-militar ainda imperava, contribuindo para manter o poder da cristandade quase que intocável.


A hierarquia que mantinha o homem do campo subordinado ao seu senhor, fazia com que camponeses jurassem seguir a Igreja como representante de Deus na terra, como sinal de fidelidade aos seus senhores. Dessa forma, era mantida a cúpula eclesiástica e toda sua estrutura permanecia inabalável. Um exemplo dessa ordem e desse poder, está na coroação do rei Eduardo II, em 25 de Fevereiro de 1308. Eduardo, sexto rei da casa dos Plantagenetas, diante da hierarquia eclesiástica e de toda a nobreza reunida na Abadia de Westminster, prestou juramento respondendo afirmativamente a todas as alegações dogmáticas feitas pelo Arcebispo de Cantuária, o qual ao fim da cerimônia, o coroou rei da Inglaterra. Desta maneira, a Igreja continuava coroando reis e imperadores, mantendo-se forte e como única força unificadora da Europa. A Igreja também era responsável pela convocação e declaração de guerras, as chamadas "Guerras Santas", cujo objetivo em primeiro lugar era assegurar seus interesses econômicos e o monopólio da fé e da religião católica, preservando assim seus domínios. Para esse fim, o Papa Inocêncio III, nos anos de 1208-1209, não exitou em lançar uma nova cruzada. Dessa vez, não foi uma cruzada contra os "infiéis muçulmanos", mas sim contra os próprios cristãos.


A Cruzada contra os cátaros e os albigenses, teve como finalidade combater o mal da "heresia". Os albigenses estavam dominando o Sul da França e conquistando domínios territoriais. Os cátaros, por outro lado, possuíam um estilo de vida baseado na simplicidade, ainda que conservassem uma certa austeridade. Levavam uma vida honesta, voltada para a pregação das Escrituras, o que os fez ganhar rapidamente grande admiração e o respeito de todo o povo. Logo, a Igreja percebeu que se não combatesse aquela "heresia", perderia não só a hegemonia naquela região, como poderia tal heresia se espalhar por toda a França, e dali para outras regiões já cansadas do domínio e poder da Igreja e de seus abusos, o qual mediante o terror, impunha à população o conceito de castigo e inferno pelo descumprimento de seus dogmas, garantindo através do medo, o controle sobre as classes e o poder político, interferindo em questões de Estado, bem como estimulando e fomentando guerras de acordo com seus interesses.



Em 1095, o Papa Urbano II convocou pela primeira vez as Cruzadas, aumentando por consequência o domínio da Igreja Católica que matava com o aval de Deus. Segundo este Papa, podia-se obter o favor de Deus e a salvação, matando e livrando a terra dos "infiéis". Desse modo, a convocação para as Cruzadas foi um sucesso estrondoso, onde nobres de poucas posses, camponeses desiludidos, fanáticos de todas as partes da Europa, aventureiros e homens de guerra, responderam ao chamado do Papa, colocando à disposição seus dotes ao serviço de quem pagasse o valor mais alto. Mais à frente, no entanto, esse movimento provocou importantes mudanças no cenário europeu e contribuiu para a erosão do domínio absolutista da Igreja, principalmente através do surgimento e intensificação das rotas de comércio que trouxe um novo olhar na maneira de enxergar o mundo por esses homens que ao saírem para outras terras, conheceram outras culturas e povos. Neste período, o comércio ganhou uma importante contribuição dos Templários, fazendo surgir um novo segmento composto de comerciantes, cuja pátria estava onde melhor fossem recebidos e onde as chances de lucro lhes fossem mais vantajosas, sem o temor de perderem suas almas e suas bolsas.

Apesar do forte domínio ainda exercido pela Igreja Católica em vários aspectos, foi durante esse período que ela passou a enfrentar resistências. Algumas guerras surgiram, no qual senhores feudais, nobres e camponeses passaram a lutar contra o poder dos papas. Outro desafio enfrentado pela Igreja, veio com os Cavaleiros Templários. Instalados na Terra Santa por volta do século XII, durante as Cruzadas e após a tomada de Jerusalém, os Templários já haviam se transformado em 1300, em uma vasta empresa internacional, atrás apenas do papado em influência e riqueza. Os Templários haviam passado de guerreiros, para um número ainda maior de administradores, burocratas, funcionários, os quais possuíam imensas quantidades de terras, não só no mundo cristão ocidental, mas também no Oriente. 

Os Templários passaram a ter autoridade, tanto na esfera da Igreja Cristã de Roma, como da Igreja Ortodoxa Grega e de Constantinopla. Criavam animais, cultivavam a terra, produziam madeira, além de possuírem navios que transportavam peregrinos de e para a Terra Santa. Deste modo, constituíram um importante poder autônomo, a ponto de fazer a Igreja e os clérigos temerem a sua força. Como se não bastasse, os Templários dominavam as mais avançadas tecnologias bélicas de sua época, bem como seus inúmeros recursos militares, tanto em material como em número de homens treinados, excedendo dessa forma, qualquer outra instituição européia. Eram ainda, os principais banqueiros da Europa, cujas transações financeiras, complexas e sofisticadas, abrangiam desde monarcas e nobres a eclesiásticos e comerciantes. 

Os Templários representavam uma importante força no cenário europeu. Suas atividades ajudaram a mudar as práticas de comércio e abriram uma forte onda de inveja e ambição da Igreja e de alguns sobreanos, entre eles, Felipe, mais conhecido como "Felipe, o Belo". Diante da nova ameaça dos Templários, a Igreja reagiu juntamente com Felipe e os acusou de heresia. Desta maneira, a Igreja conseguiu prevalecer e manter sua unidade ainda por algum tempo, mesmo após o Grande Cisma, até o século XVI quando ocorreu a Reforma Protestante.


Antes da Reforma Protestante, todo o excedente econômico era entregue à Igreja Católica, que tinha a função de distribuir os benefícios aos necessitados, pois era a instituição que monopolizava a interpretação da realidade social, já que era ali que se encontravam os estudiosos e eruditos. Toda a riqueza adquirida acima do necessário para suprir as necessidades dos homens, deveria ir para as mãos dos clérigos que as repassava à sociedade em forma de benefícios sociais e culturais. No entanto, esse repasse não era distribuído em sua integralidade. Apenas uma pequena fração ia efetivamente para esse fim. A Igreja entendia que somente aqueles que realizassem algum tipo de trabalho social em benefício do coletivo, poderia desfrutar de maiores benefícios econômicos. Segundo a Igreja, era inconcebível que o homem visasse o lucro monetário com seu trabalho, pois seus negócios só deveriam custear aquilo que pudesse cobrir a sua produção. Portanto, todo o ganho lucrativo extra era visto como exploração, extorsão, ganância e imoralidade, o que consistia falta grave diante de Deus e por esta razão, sujeito aos castigos do sofrimento eterno.



O Cristianismo abominava a usura e neste contexto, a figura do usurário passou a ser complexa, tendo em vista que a Igreja condenava a prática da riqueza mal adquirida, ou seja, a usura, que segundo eles, feriam a moralidade cristã. Para fundamentar esta posição, baseavam-se em textos das Escrituras Sagradas, mais especificamente no livro de Exodo 22:25, que diz: "Se emprestares dinheiro ao meu povo, ao pobre que está contigo, não te haverás com ele como credor que impõe juros". E também no Novo testamento, que diz: "Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas" (Mateus 6:24). Alguns papas como Urbano III, Gregório IX e Alexandre III, condenavam a usura. Clemente V, no Concílio de Viena (1311-1312) afirmou que: "Se alguém cair no erro de pretender afirmar pertinazmente que exercer as usuras não é pecado, decretamos que seja castigado". Este Concílio, condenava como herege aquele que fizesse uso dos juros nos empréstimos financeiros. Assim sendo, a economia mercantil não podia prosperar entre os cristãos, pois estariam sujeitos aos tribunais eclesiásticos. Esta prática, somente poderia ser tolerada aos não cristãos como os judeus, pelo fato destes não serem cristãos, com acesso restrito aos setores primários da economia medieval, onde lhes era vedado possuir terras ou propriedades, restringindo suas atividades ao comércio e as atividades financeiras, ou usura.

Alguns senhores feudais que aos poucos se converteram ao catolicismo, doavam terras à Igreja, contribuindo que esta se tornasse a cada doação, mais forte. Esta prática conferia ao doador a isenção de impostos, ao mesmo tempo que obtinha a proteção da Igreja, independente de ser católico ou não. Essa estrutura, integrada ao sistema feudal dos mosteiros, tinha um sistema muito semelhante ao domínio exercido nos feudos. Nestes mosteiros se concentrava a cultura medieval desenvolvida, arquivada e estudada pelos monges e outros religiosos. A Igreja detinha desta forma, o monopólio da cultura, pois os monges eram os únicos que sabiam ler e escrever. Portanto, eram eles quem dominavam.





Ao final do século XV e no início do século XVI, a Europa já dava mostras de que não suportava mais todo o fardo imposto pela Igreja. A Inquisição já havia começado, deixando à mostra seu rastro de dor, sofrimento e a morte ia se espalhando por todos os lugares. Da Inglaterra, ecoaram vozes como a de John Wycliff pregando a ruptura com a Igreja papal. Os albigenses já tinham sido exterminados e o rei Felipe, o Belo, já tinha imposto uma humilhante derrota à Igreja com a transferência do papado de Roma para Avignon. Alguns papas tentaram implementar reformas no seio da Igreja, embora nunca tenham de fato conseguido levar adiante tais reformas. Era cada vez mais nítida a situação de decadência em que o clero e suas instituições religiosas haviam mergulhado. O Humanismo surgia trazendo consigo a esperança de mudança. A música, as artes e a literatura floresciam por todos os lados. 



Humanistas como Erasmo de Roterdã, pregavam, antes mesmo de Lutero, a necessidade da Igreja fazer uma revisão interna, passando pela autocrítica de alguns de seus dogmas. O abismo entre a instituição religiosa e a nobreza desejosa de se libertar das amarras do catolicismo era cada vez maior. O povo cansado, sem esperanças de viver dias melhores sendo cada vez mais explorado, onde até mesmo para obter o perdão de seus pecados e assim escaparem dos horrores da condenação eterna do fogo do inferno, tinham que pagar pesadas penitências e vultuosas indulgências como ato de contrição. A Europa era um barril de pólvora, prestes a explodir. É neste cenário que surge Martinho Lutero, que com suas 95 teses, forneceu o estopim e a fagulha para que esta explosão acontecesse.






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terça-feira, 10 de outubro de 2017

A Igreja Católica do Final da Idade Média ao Início dos Tempos Modernos.




Palácio dos Papas - Avignon.


A Igreja Católica na Idade Média viveu o apogeu de seu poder político, econômico e dominante sobre a sociedade feudal. Regulava quase que a totalidade da vida cotidiana das diferentes classes sociais, não obstante aos muitos contratempos e reveses que sofreu. Um desses contratempos, foi a transferência do papado de Roma para Avignon, pelo rei Felipe IV da França, que desejoso de ter o domínio sobre o clero e suas finanças, devido às grandes somas de dinheiro que eram enviadas de toda a Europa para o papado, e principalmente pelo fato da França estar em guerra com a Inglaterra, resolveu consagrar um papa francês, permitindo assim, obter o controle político mais facilmente. Apesar deste período ter ficado conhecido como "cativeiro babilônico" e das sucessivas divisões que surgiam dentro do seio da Igreja, esta prosseguia como instituição dominante. 

Alguns historiadores, como Will Durant, em seu livro, "A Reforma", nos mostra um quadro de atividades em que a arte e a música dependiam da cristandade para sobreviver e existir, passando pela filosofia, matemática, astronomia e outras ciências que eram patrocinadas pela Igreja. Os humanistas, intelectuais que surgiram na Itália em fins do século XIII, só puderam resgatar as línguas oficiais do latim e do grego porque monges dedicados cuidaram de preservar intactos centenas de milhares de escritos em suas línguas antigas, ainda que outros tantos escritos tenham sido destruídos por esses mesmos monges. O poder espiritual era de domínio total da Igreja Católica e o modelo feudo-militar ainda imperava, contribuindo para manter o poder da cristandade quase que intocável.


A hierarquia que mantinha o homem do campo subordinado ao seu senhor, fazia com que camponeses jurassem seguir a Igreja como representante de Deus na terra, como sinal de fidelidade aos seus senhores. Dessa forma, era mantida a cúpula eclesiástica e toda sua estrutura permanecia inabalável. Um exemplo dessa ordem e desse poder, está na coroação do rei Eduardo II, em 25 de Fevereiro de 1308. Eduardo, sexto rei da casa dos Plantagenetas, diante da hierarquia eclesiástica e de toda a nobreza reunida na Abadia de Westminster, prestou juramento respondendo afirmativamente a todas as alegações dogmáticas feitas pelo Arcebispo de Cantuária, o qual ao fim da cerimônia, o coroou rei da Inglaterra. Desta maneira, a Igreja continuava coroando reis e imperadores, mantendo-se forte e como única força unificadora da Europa. A Igreja também era responsável pela convocação e declaração de guerras, as chamadas "Guerras Santas", cujo objetivo em primeiro lugar era assegurar seus interesses econômicos e o monopólio da fé e da religião católica, preservando assim seus domínios. Para esse fim, o Papa Inocêncio III, nos anos de 1208-1209, não exitou em lançar uma nova cruzada. Dessa vez, não foi uma cruzada contra os "infiéis muçulmanos", mas sim contra os próprios cristãos.


A Cruzada contra os cátaros e os albigenses, teve como finalidade combater o mal da "heresia". Os albigenses estavam dominando o Sul da França e conquistando domínios territoriais. Os cátaros, por outro lado, possuíam um estilo de vida baseado na simplicidade, ainda que conservassem uma certa austeridade. Levavam uma vida honesta, voltada para a pregação das Escrituras, o que os fez ganhar rapidamente grande admiração e o respeito de todo o povo. Logo, a Igreja percebeu que se não combatesse aquela "heresia", perderia não só a hegemonia naquela região, como poderia tal heresia se espalhar por toda a França, e dali para outras regiões já cansadas do domínio e poder da Igreja e de seus abusos, o qual mediante o terror, impunha à população o conceito de castigo e inferno pelo descumprimento de seus dogmas, garantindo através do medo, o controle sobre as classes e o poder político, interferindo em questões de Estado, bem como estimulando e fomentando guerras de acordo com seus interesses.


Em 1095, o Papa Urbano II convocou pela primeira vez as Cruzadas, aumentando por consequência o domínio da Igreja Católica que matava com o aval de Deus. Segundo este Papa, podia-se obter o favor de Deus e a salvação, matando e livrando a terra dos "infiéis". Desse modo, a convocação para as Cruzadas foi um sucesso estrondoso, onde nobres de poucas posses, camponeses desiludidos, fanáticos de todas as partes da Europa, aventureiros e homens de guerra, responderam ao chamado do Papa, colocando à disposição seus dotes ao serviço de quem pagasse o valor mais alto. Mais à frente, no entanto, esse movimento provocou importantes mudanças no cenário europeu e contribuiu para a erosão do domínio absolutista da Igreja, principalmente através do surgimento e intensificação das rotas de comércio que trouxe um novo olhar na maneira de enxergar o mundo por esses homens que ao saírem para outras terras, conheceram outras culturas e povos. Neste período, o comércio ganhou uma importante contribuição dos Templários, fazendo surgir um novo segmento composto de comerciantes, cuja pátria estava onde melhor fossem recebidos e onde as chances de lucro lhes fossem mais vantajosas, sem o temor de perderem suas almas e suas bolsas.

Apesar do forte domínio ainda exercido pela Igreja Católica em vários aspectos, foi durante esse período que ela passou a enfrentar resistências. Algumas guerras surgiram, no qual senhores feudais, nobres e camponeses passaram a lutar contra o poder dos papas. Outro desafio enfrentado pela Igreja, veio com os Cavaleiros Templários. Instalados na Terra Santa por volta do século XII, durante as Cruzadas e após a tomada de Jerusalém, os Templários já haviam se transformado em 1300, em uma vasta empresa internacional, atrás apenas do papado em influência e riqueza. Os Templários haviam passado de guerreiros, para um número ainda maior de administradores, burocratas, funcionários, os quais possuíam imensas quantidades de terras, não só no mundo cristão ocidental, mas também no Oriente. 

Os Templários passaram a ter autoridade, tanto na esfera da Igreja Cristã de Roma, como da Igreja Ortodoxa Grega e de Constantinopla. Criavam animais, cultivavam a terra, produziam madeira, além de possuírem navios que transportavam peregrinos de e para a Terra Santa. Deste modo, constituíram um importante poder autônomo, a ponto de fazer a Igreja e os clérigos temerem a sua força. Como se não bastasse, os Templários dominavam as mais avançadas tecnologias bélicas de sua época, bem como seus inúmeros recursos militares, tanto em material como em número de homens treinados, excedendo dessa forma, qualquer outra instituição européia. Eram ainda, os principais banqueiros da Europa, cujas transações financeiras, complexas e sofisticadas, abrangiam desde monarcas e nobres a eclesiásticos e comerciantes. 

Os Templários representavam uma importante força no cenário europeu. Suas atividades ajudaram a mudar as práticas de comércio e abriram uma forte onda de inveja e ambição da Igreja e de alguns sobreanos, entre eles, Felipe, mais conhecido como "Felipe, o Belo". Diante da nova ameaça dos Templários, a Igreja reagiu juntamente com Felipe e os acusou de heresia. Desta maneira, a Igreja conseguiu prevalecer e manter sua unidade ainda por algum tempo, mesmo após o Grande Cisma, até o século XVI quando ocorreu a Reforma Protestante.


Antes da Reforma Protestante, todo o excedente econômico era entregue à Igreja Católica, que tinha a função de distribuir os benefícios aos necessitados, pois era a instituição que monopolizava a interpretação da realidade social, já que era ali que se encontravam os estudiosos e eruditos. Toda a riqueza adquirida acima do necessário para suprir as necessidades dos homens, deveria ir para as mãos dos clérigos que as repassava à sociedade em forma de benefícios sociais e culturais. No entanto, esse repasse não era distribuído em sua integralidade. Apenas uma pequena fração ia efetivamente para esse fim. A Igreja entendia que somente aqueles que realizassem algum tipo de trabalho social em benefício do coletivo, poderia desfrutar de maiores benefícios econômicos. Segundo a Igreja, era inconcebível que o homem visasse o lucro monetário com seu trabalho, pois seus negócios só deveriam custear aquilo que pudesse cobrir a sua produção. Portanto, todo o ganho lucrativo extra era visto como exploração, extorsão, ganância e imoralidade, o que consistia falta grave diante de Deus e por esta razão, sujeito aos castigos do sofrimento eterno.



O Cristianismo abominava a usura e neste contexto, a figura do usurário passou a ser complexa, tendo em vista que a Igreja condenava a prática da riqueza mal adquirida, ou seja, a usura, que segundo eles, feriam a moralidade cristã. Para fundamentar esta posição, baseavam-se em textos das Escrituras Sagradas, mais especificamente no livro de Exodo 22:25, que diz: "Se emprestares dinheiro ao meu povo, ao pobre que está contigo, não te haverás com ele como credor que impõe juros". E também no Novo testamento, que diz: "Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas" (Mateus 6:24). Alguns papas como Urbano III, Gregório IX e Alexandre III, condenavam a usura. Clemente V, no Concílio de Viena (1311-1312) afirmou que: "Se alguém cair no erro de pretender afirmar pertinazmente que exercer as usuras não é pecado, decretamos que seja castigado". Este Concílio, condenava como herege aquele que fizesse uso dos juros nos empréstimos financeiros. Assim sendo, a economia mercantil não podia prosperar entre os cristãos, pois estariam sujeitos aos tribunais eclesiásticos. Esta prática, somente poderia ser tolerada aos não cristãos como os judeus, pelo fato destes não serem cristãos, com acesso restrito aos setores primários da economia medieval, onde lhes era vedado possuir terras ou propriedades, restringindo suas atividades ao comércio e as atividades financeiras, ou usura. 



Alguns senhores feudais que aos poucos se converteram ao catolicismo, doavam terras à Igreja, contribuindo que esta se tornasse a cada doação, mais forte. Esta prática conferia ao doador a isenção de impostos, ao mesmo tempo que obtinha a proteção da Igreja, independente de ser católico ou não. Essa estrutura, integrada ao sistema feudal dos mosteiros, tinha um sistema muito semelhante ao domínio exercido nos feudos. Nestes mosteiros se concentrava a cultura medieval desenvolvida, arquivada e estudada pelos monges e outros religiosos. A Igreja detinha desta forma, o monopólio da cultura, pois os monges eram os únicos que sabiam ler e escrever. Portanto, eram eles quem dominavam. 





Ao final do século XV e no início do século XVI, a Europa já dava mostras de que não suportava mais todo o fardo imposto pela Igreja. A Inquisição já havia começado, deixando à mostra seu rastro de dor, sofrimento e a morte ia se espalhando por todos os lugares. Da Inglaterra, ecoaram vozes como a de John Wycliff pregando a ruptura com a Igreja papal. Os albigenses já tinham sido exterminados e o rei Felipe, o Belo, já tinha imposto uma humilhante derrota à Igreja com a transferência do papado de Roma para Avignon. Alguns papas tentaram implementar reformas no seio da Igreja, embora nunca tenham de fato conseguido levar adiante tais reformas. Era cada vez mais nítida a situação de decadência em que o clero e suas instituições religiosas haviam mergulhado. O Humanismo surgia trazendo consigo a esperança de mudança. A música, as artes e a literatura floresciam por todos os lados. 

Humanistas como Erasmo de Roterdã, pregavam, antes mesmo de Lutero, a necessidade da Igreja fazer uma revisão interna, passando pela autocrítica de alguns de seus dogmas. O abismo entre a instituição religiosa e a nobreza desejosa de se libertar das amarras do catolicismo era cada vez maior. O povo cansado, sem esperanças de viver dias melhores sendo cada vez mais explorado, onde até mesmo para obter o perdão de seus pecados e assim escaparem dos horrores da condenação eterna do fogo do inferno, tinham que pagar pesadas penitências e vultuosas indulgências como ato de contrição. A Europa era um barril de pólvora, prestes a explodir. É neste cenário que surge Martinho Lutero, que com suas 95 teses, forneceu o estopim e a fagulha para que esta explosão acontecesse.






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