O movimento extremista "Estado Islâmico" (EI) teve sua origem em um grupo armado de jihadistas sunitas radicais, em 2006. Sua criação foi resultado do período de instabilidade política que se instalou no Oriente Médio depois da invasão americana ao Iraque, em 2003. Contudo, o grupo extremista apenas começou a se tornar conhecido no mundo com a tomada de Mossul, em Junho de 2014.
O Iraque, um país de maioria muçulmana, dentre a qual há uma divisão entre uma minoria sunita e uma maioria xiita, viu essa diferença se tornar ainda mais exacerbada após a intervenção dos Estados Unidos da América, em 2003. Posteriormente, o desenvolvimento dessa organização foi favorecido com a admissão de um governo intermediário em que o presidente de origem xiita adotou uma forma de governo sectária e de rejeição das minorias sunitas nos cargos públicos.
O crescente antagonismo entre sunitas e xiitas, estendeu-se além das fonteiras iraquianas e sírias e passou a afetar a política do Médio Oriente, refletindo e estremecendo principalmente as relações entre o Iran, de maioria xiita e a Arábia Saudita, de maioria sunita (que por sua vez jamais aceitou o regime de governo xiita do Iraque após a derrocada de Saddam Hussein). Além disso, o fracasso catastrófico da política americana de "guerra ao terror" no Iraque impulsionou a guerra civil na Síria, criando condições favoráveis para o surgimento, o crescimento e o triunfo do Estado Islâmico.
O Estado Islâmico conta com o apoio de outras organizações terroristas e vem propagando o terror através da execução de minorias étnicas, grupos religiosos, especialmente cristãos, e sequestro de civis. O grupo utiliza técnicas de tortura extremamente cruéis como decapitações, apedrejamentos, fuzilamento em massa e sepultamento de pessoas vivas. É alimentado pelo ódio às minorias xiitas, yazidis, curdas, aos Estados Unidos e Europa. Tomaram zonas de grande importância econômica da Síria e do Iraque, como a cidade de Mossul, rica em petróleo e dona da maior hidrelétrica do país. O Estado Islâmico vêm recrutando jovens de todo o mundo, de ambos os sexos, que são atraídos principalmente por fóruns na internet.
Os jihadistas do Estado Islâmico tem destruído mesquitas e santuários de importância cultural e religiosa no Iraque, bem como interferido na educação das escolas sírias. Além disso, criam califados nas regiões dominadas, ditando regras de comportamento a mulheres e crianças, incentivando inclusive a mutilação genital feminina, os casamentos forçados e o estupro de crianças e mulheres, muçulmanas ou não.
Na Síria, o Estado Islâmico controla áreas específicas na província de Raqa, cidade ao norte, próximo a Aleppo e na fronteira leste do Iraque, criando um califado nos mesmos moldes do século VII, onde convencem as pessoas recrutadas de que sua filosofia é o caminho certo para a justiça e a felicidade neste mundo e no mundo celestial. Fazem também um intenso trabalho de desconstrução de identidade, levando os soldados a um quebrantamento psicológico, onde depois são submetidos a um rigoroso doutrinamento até que reflitam em seus próprios pensamentos e ações, a imagem do Estado Islâmico.
Desde a proclamação do Califado Islâmico, em junho de 2014 na Síria, mais de três mil pessoas foram executadas, entre elas civis e crianças. O objetivo do Estado Islâmico na Síria é eliminar fronteiras e unir os territórios conquistados na Síria e no Iraque e governá-los por um califa, um único chefe político e religioso. O Estado Islâmico julga-se soberano e superior aos demais muçulmanos por acreditarem que são os verdadeiros seguidores de Maomé. Por esta razão, massacram todos os outros muçulmanos e as minorias étnicas que não compactuam com suas crenças.
A principal finalidade do Estado Islâmico é organizar ataques terroristas no Ocidente, principalmente na Europa e Estados Unidos. Para o Estado Islâmico, todos os povos do Ocidente são infiéis, decadentes morais e religiosos. O recente atentado em Paris que matou 129 pessoas foi o maior atentado terrorista na França, desde a Segunda Guerra Mundial e o segundo maior na Europa depois das explosões que mataram 191 pessoas em Madri, em março de 2004.
Os ataques na França causaram um impacto inevitável sobre as fronteiras, principalmente depois da revelação de que vários homens conectados ao atentado foram presos na Bélgica. Além disso, tais ataques também podem impactar a questão dos refugiados, pois no campo político, todo esse contexto de tensão acaba fortalecendo a extrema-direita e tornando a crise dos refugiados mais complexa. Na Alemanha, a primeira ministra Angela Merkel já começa a sofrer pressões para o fechamento de suas fronteiras, algo que, se concretizado, significará uma derrota política para ela.
Em Setembro de 2014, os Estados Unidos, juntamente com os países da OTAN, decidiram ajudar os combatentes iraquianos organizando uma série de bombardeios contra as instalações militares do Estado Islâmico. Em 2015, logo após os atentados de Paris, França e Rússia bombardearam Raqa. A ONU também aprovou uma resolução convocando todos os países para combater o Estado Islâmico e os grupos ligados a Al Qaeda.
O fim do terror imposto pelo Estado Islâmico pode ainda estar muito longe do fim. Entretanto, as implicações das políticas contraterroristas do Ocidente podem trazer mais tensão para o mundo. O uso de técnicas de inteligência maiores e mais incisivas, aliadas a uma implacável e sólida estrutura militar aérea e terrestre, podem trazer uma série de efeitos colaterais, como a morte de diversos inocentes e o aumento da xenofobia no Ocidente. Sobretudo, é imprescindível que haja extremo cuidado para preservar o Islã, uma religião com mais de 1 bilhão de pessoas, que nada teem a ver com o terror praticado pelo Estado Islâmico.
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