A independência do Brasil não foi como muitos pensam, uma consequência natural dos fatos vinculados à crise do sistema colonial versus metrópole. Por longo tempo, até a primeira metade do século XIX, a questão da independência esteve limitada à ações regionais. As inconfidências não assumiram papel de destaque na historiografia brasileira em razão do Brasil ainda não ter desenvolvido até então, laços de pertencimento capazes de criar um sentimento nacionalista. A chegada da Corte de D. João VI em 1808, trouxe uma série de transformações à América Portuguesa, através das várias ações estratégicas tomadas por D. João para fugir do Bloqueio Continental imposto pela França e que fizeram com que o Brasil adquirisse o status de Reino Unido de Portugal, e não mais de colônia.
Após o grito do Ipiranga, tanto a imprensa quanto as autoridades, tocavam no assunto de maneira cuidadosa em suas cartas pessoais e correspondências de trabalho. Algumas vezes, ainda insistiam na importância do Reino Unido. Outras vezes, criticavam e relembravam os desmandos e abusos cometidos pelas cortes lisboetas, reafirmando o rompimento como a decisão mais acertada. Um dos argumentos usados para legitimar e manter a separação política foi o de que após a independência, cessaram as rebeliões de rua em cidades como o Rio de Janeiro, onde os negros 'capoeiras' promoviam desordens nas vias públicas. Essas insurreições da população 'de cor' da Corte com suas fugas, ajuntamentos e tumultos, não era apenas uma ameaça, mas uma realidade cotidiana, onde escravos e libertos, participaram com igual intensidade dos movimentos políticos do país.
Após o grito do Ipiranga, tanto a imprensa quanto as autoridades, tocavam no assunto de maneira cuidadosa em suas cartas pessoais e correspondências de trabalho. Algumas vezes, ainda insistiam na importância do Reino Unido. Outras vezes, criticavam e relembravam os desmandos e abusos cometidos pelas cortes lisboetas, reafirmando o rompimento como a decisão mais acertada. Um dos argumentos usados para legitimar e manter a separação política foi o de que após a independência, cessaram as rebeliões de rua em cidades como o Rio de Janeiro, onde os negros 'capoeiras' promoviam desordens nas vias públicas. Essas insurreições da população 'de cor' da Corte com suas fugas, ajuntamentos e tumultos, não era apenas uma ameaça, mas uma realidade cotidiana, onde escravos e libertos, participaram com igual intensidade dos movimentos políticos do país.
A liberdade era o centro das discussões nos espaços públicos no início do século XIX, sobretudo com as medidas tomadas por D. João VI à partir do estabelecimento da Corte no Brasil. A Corte portuguesa, no entanto, negava-se a reconhecer o direito à autonomia do Brasil, sustentando o discurso de que ambos os países faziam parte do mesmo reino com sede em Lisboa, porém tratando as regiões da então colônia, como as províncias existentes em Portugal pelo temor de que após o sucesso da Revolução do Porto em 1820, pudessem se ver novamente dependentes das decisões tomadas no Rio de Janeiro.
As aspirações à autonomia no Brasil passaram a ser vistas como ilegítimas e conspiratórias. Em 11 de fevereiro de 1822, a delegação da cidade de São Paulo tomou assento no parlamento com um projeto para restabelecer os negócios políticos entre Brasil e Portugal. Segundo esse projeto, as duas monarquias permaneceriam unidas, porém com administração, instituições e leis independentes, bem como a possibilidade de cada país poder estabelecer tratados comerciais individuais, além de introduzir relações comerciais mutuamente vantajosas. Os parlamentares paulistas propunham a existência de dois reinos numa espécie de federação, rejeitando desse modo, a tese de ser o Brasil uma província. A polêmica foi grande. Os integracionistas lutaram para desautorizar a comissão formada para estudar os assuntos do Brasil e acabaram por pedir punições à junta de São Paulo, em março de 1822. Capitaneados por Fernandes Tomás, os portugueses assumiram uma postura nacionalista com o objetivo de preservar a hegemonia lusitana e defendiam que caso os brasileiros não se submetessem à Corte portuguesa, deveriam se separar.
Por um lado, as propostas dos parlamentares paulistas ofereciam atrativos para os negociantes da metrópole que visavam a possibilidade de retomada dos monopólios, aliado ao fato de ainda considerarem o Brasil uma província, o qual poderiam enviar suas tropas para defender suas consignações no Nordeste, sobretudo em Pernambuco. Por outro lado, os integracionistas falavam em separação em nome da dignidade nacional e acenavam com a possibilidade de provocar desastradamente uma ruptura e isso a burguesia mercantil metropolitana não poderia admitir, uma vez que visavam não somente recuperar o monopólio, mas também buscar novos mercados e novas fontes de acumulação de capital, através do envolvimento com o mercado brasileiro e o tráfico de escravos.
O clima tenso entre os que defendiam suas posições fez com que deputados e jornalistas brasileiros começassem a clamar por uma assembléia própria e uma constituição específica para a América, a exemplo do que a Espanha havia feito com as suas colônias. Para os brasileiros, aceitar a submissão significaria a recolonização, ao passo que contrariar a Corte portuguesa, significava a independência. Ainda que a última alternativa fosse considerada como sinônimo de liberdade e autonomia, os brasileiros ainda não queriam um país totalmente liberto dos laços com Portugal pelo fato da independência não ter sido pensada e amadurecida como um rompimento. As ações foram sendo tomadas pelos "homens bons" desejosos de garantir e proteger a causa da liberdade que pouco tempo depois, foi transformada em causa da nação e mais tarde, em causa do Brasil. Na ótica de quem via o mundo pelas lentes americanas e não portuguesas, só a permanência do príncipe regente seria capaz de congregar os interesses de alguns como sendo de todos, depois de constatada a impossibilidade da união do projeto do império luso-brasileiro.
O constante medo da anarquia e das rebeliões de rua pela parcela negra da população, fizeram com que os políticos brasileiros invocassem em sua defesa os discursos sobre a barbárie dos africanos e dos negros em geral, através dos episódios sangrentos que sacudiram São Domingos em finais do século XVIII e início do século XIX. Os membros da Corte portuguesa, por sua vez, também se utilizaram desse discurso em suas tribunas para fazer ecoar suas ameaças de deixar o Brasil entregue à própria sorte e deixar a população branca, livre e bem nascida, à mercê da 'sanha' dos negros bárbaros. Tais vociferações, entretanto, faziam parte de um jogo teatral do lado português.
A população pobre e desvalida esteve maciçamente presente durante esse processo, conduzindo de maneira conjunta e efetiva os fatos. Gritando palavras de ordem em defesa uns dos outros, incitavam atitudes diferenciadas de acordo com as circunstâncias daquilo que estava em jogo. Juntamente com o povo, havia a participação de tropas composta por batalhões de libertos que viam na corporação uma oportunidade de conquistar autonomia, bem como a participação de escravos fugidos que dessa forma, tinham a chance de conquistar a alforria. A conquista da autonomia era também a esperança de estrangeiros e portugueses pobres que viviam na Corte e que de igual modo, se engajaram ao movimento formando fileiras menos qualificadas. Para a maioria das pessoas que compunham o povo, liberdade traduzia-se em pequenos atos do cotidiano que aos poucos foram tomando forma, ao longo do século XIX e foram se constituindo em direitos maiores vinculados à cidadania que no Brasil só passou a ser chamado de "direitos civis" em 1917, muitos anos depois da abolição.
A população pobre e desvalida esteve maciçamente presente durante esse processo, conduzindo de maneira conjunta e efetiva os fatos. Gritando palavras de ordem em defesa uns dos outros, incitavam atitudes diferenciadas de acordo com as circunstâncias daquilo que estava em jogo. Juntamente com o povo, havia a participação de tropas composta por batalhões de libertos que viam na corporação uma oportunidade de conquistar autonomia, bem como a participação de escravos fugidos que dessa forma, tinham a chance de conquistar a alforria. A conquista da autonomia era também a esperança de estrangeiros e portugueses pobres que viviam na Corte e que de igual modo, se engajaram ao movimento formando fileiras menos qualificadas. Para a maioria das pessoas que compunham o povo, liberdade traduzia-se em pequenos atos do cotidiano que aos poucos foram tomando forma, ao longo do século XIX e foram se constituindo em direitos maiores vinculados à cidadania que no Brasil só passou a ser chamado de "direitos civis" em 1917, muitos anos depois da abolição.
A independência, à princípio assumiu um caráter de revolução com finalidades e perspectivas contraditórias. Para os negros e mestiços foi uma luta contra os brancos e seus privilégios. Já para os brancos despossuídos, significou uma subversão da ordem, uma promessa de emancipação, através da eliminação das barreiras de cor e a possibilidade de realizar a liberdade numa sociedade ainda contraditória, onde os elementos da classe senhorial continuavam interessados a ser senhores de terra e de escravos. Dessa forma, a independência não foi revolução nem ruptura, mas um processo de continuidade civilizatória iniciado pela metrópole. A emancipação, fruto de uma discordância agravada com o tempo pelos habitantes do Brasil para com as medidas recolonizadoras das Cortes, forçou D. Pedro I a agir para preservar a integridade do Império e a permanência dos privilégios conquistados pela aristocracia rural. Após a declaração da independência, optou-se pela continuação do sistema monárquico para assegurar esses privilégios.
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