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sábado, 9 de maio de 2015

A Hipótese da Imortalidade da Alma na Obra Fédon de Platão







Nascido em berço aristocrático no ano de 427 a.C, descendente dos antigos reis de Atenas, de Sólon, um dos maiores e mais influentes legisladores atenienses e sobrinho de Crítias e Cármides que fizeram parte dos chamados "trinta tiranos" que governaram Atenas, Platão desde cedo destacou-se por sua sensibilidade artística e poética. Lutou na Guerra do Peloponeso e durante esse período, conheceu Sócrates e tornou-se seu discípulo por um período de oito anos. Sócrates era considerado um dos homens mais sábios e inteligentes da Grécia antiga e o principal fundador do que conhecemos hoje como filosofia ocidental.

Após a execução de Sócrates em 399, Platão passou doze anos de sua vida viajando. Conheceu a Magna Grécia, a Sicília, o Egito e a Itália Meridional, onde teve contato com outros socráticos e travou conhecimento com alguns pitagóricos, cujo os pensamentos também se alinhavam e provinham dos ensinamentos babilônicos e egípcios. Tanto Platão quanto Pitágoras, foram iniciados nas antigas e arcanas escolas de mistérios.




Platão, influenciado por Dion, jovem de família real siciliana que foi seu discípulo ao estudar filosofia em Atenas e que ficara muito impressionado e entusiasmado com as idéias políticas do filósofo, propõe a Platão que este vá à Siracusa ensinar a Dionísio a maneira certa de como governar, o que Platão aceitou de bom grado. Esse fato, culminou numa revolução, onde Dion tomou o poder para logo em seguida ser assassinado. Os sicilianos culparam Platão pelo ocorrido e decidiram mandá-lo de volta para Atenas de navio para também ser assassinado. Entretanto, os marinheiros resolveram vendê-lo como escravo e Platão foi comprado por alguns de seus amigos que resolveram libertá-lo.


De volta a Atenas, Platão dedicou-se até o fim de sua vida à metafísica. ao ensino filosófico e a redigir suas obras, entre elas, "Fédon", quarto e último diálogo de Platão, onde ele aborda o último dia de vida de Sócrates, considerado o melhor, o maior e o mais justo dos sábios, preso em Antenas e condenado à morte, após ter sido acusado de corrupção por haver criado novos deuses e difundido idéias contrárias à religião vigente. A narrativa de"Fédon" se passou no intervalo entre o amanhecer e o pôr do sol, antes de Sócrates ser obrigado a cumprir sua pena de morte, forçado a beber uma taça de cicuta e assim, na companhia de seus amigos e discípulos, Sócrates promoveu uma análise e uma discussão através dos diálogos que se seguiram, acerca de suas teorias sobre a imortalidade da alma.


Na obra "Fédon", Sócrates para justificar a imortalidade da alma, conta com três argumentos: o argumento dos contrários, o argumento das reminiscências e o argumento da teoria das formas ou ideias e são estes argumentos apenas que aqui serão alvo de uma breve análise.


Para provar que a alma é imortal, Sócrates apresenta um argumento interligado ao conhecimento das formas ou idéias. Para ele, a alma só aprende na verdade com aquilo que já foi aprendido em outra existência e através das recordações desta existência anterior, é que a alma aprende. Segundo ele, a alma antes de habitar em um corpo, habitou no hades, ou seja, no mundo das idéias, onde existem as formas perfeitas e eternas. No momento em que a alma passou a habitar num novo corpo, tudo o que contemplou no mundo metafísico foi esquecido. Desta forma, a alma terá que na nova existência do corpo, aprender o que esqueceu. No entanto, esta alma irá se recordar do que contemplou no hades e irá trazer para o mundo sensível onde habita, as sombras das formas do mundo das idéias. Para Sócrates, a aprendizagem nada mais é do que aquilo que conhecíamos no mundo metafísico.


Ainda seguindo este argumento, a alma que não tem como objetivo primordial a satisfação dos desejos do corpo, aproxima-se mais da verdade. Isto se dá geralmente, com as almas que já passaram por várias encarnações e por isso, estão mais aptas a controlar os desejos do corpo que consequentemente as levará à purificação. De outro modo, a alma poucas vezes encarnada, está mais susceptível  ao domínio do corpo. As experiências da vida atual, baseiam-se nas experiências de vidas anteriores, trazendo uma identidade entre alma, idéias e pensamento. As idéias no entanto, não são uma criação originária de uma mente individual, mas das realidades pré-existentes do espírito que anteriormente as vivenciou e que irá trazer a revivência dessa realidade para a sua encarnação corpórea. Esta teoria tem como objetivo, a comprovação da pré-existência da alma.


A Teoria da Reminiscência pressupõe também a existência da alma. Para que alguém se recorde de alguma coisa, necessário é que a tenha aprendido anteriormente. Esta teoria admite que a alma contemplou em sua essência, algo que aprendeu em outra vida, da qual agora precise relembrar. Com esta teoria, Sócrates afirma que "a alma pré-existe ao corpo e sobrevive à morte". No entanto, Sócrates também pensava que a alma que pouco encarnou, nem sempre era uma alma de instintos obscuros. Na realidade, este poderia ser um caso em que a alma sobrepondo-se aos instintos do corpo, tivesse encontrado mais rapidamente a purificação. Para Sócrates, as reminiscências nada mais são do que um recordar e o saber, nada mais é do que um conhecimento que fora contemplado anteriormente. Com esta alegação, Sócrates encontra mais um argumento para provar a existência da alma antes do nascimento. No entanto, Platão não foi muito adiante e abriu mão de se aprofundar na definição do que era aprender.


No argumento dos contrários, Sócrates procurou validar a ideia de que todas as coisas nascem do seu contrário: guerra/paz, morte/vida, feio/belo, maior/menor. Assim sendo, para manter este ciclo é necessário que as almas que se encontram no hades reencarnem sucessivamente até atingirem a perfeição. As almas são a causa do 'devir' (alternância cíclica de opostos). Segundo o argumento dos contrários em relação a alma, pode-se dizer que esta por ser eterna, é um ser em si e não pode admitir o oposto à ideia que lhe está subentendida, ou seja, a alma não admite a morte, pois é imortal e o fato de ser da mesma natureza das idéias, não pode por isso, estar sujeita à morte, sendo que ela (alma) é a causa da vida. Para Sócrates, os vivos nascem dos mortos e as almas continuam a existir em algum lugar após a morte, de onde retornarão. Em resumo, esta crença consiste em afirmar que se a morte nasce da vida, a vida nasce da morte, e se o trânsito da vida à morte se chama morrer, o trânsito da morte à vida, chama-se reviver. A origem desse argumento é atribuído à crença na metempsicose de órficos e pitagóricos. Segundo esta teoria, sem alternância o mundo caminharia numa única direção que levaria à inanição e ao fim das manifestações da vida.




A ideia da morte causa horror ao mais comum dos homens por estes ignorarem o real e verdadeiro sentido da existência. No "Fédon" encontramos todo um diálogo mítico, onde alma é pensamento e também princípio de vida, crescimento e movimento para o corpo. Sócrates termina sua exposição com uma exortação à reflexão, ao dizer que: "sendo a alma imortal,exige, em consequência, o nosso cuidado, não só em atenção ao tempo em que dura o que chamamos vida, pois nada mais levaremos conosco, quando baixarmos ao hades do que a nossa formação moral e nossos hábitos, acarretando utilidade ou prejuízo a quem morre, logo,e desde o princípio de sua viagem para o além."


As noções de morte e imortalidade, corpo e alma, foram objeto de discussão e estudo nas obras da maioria dos pensadores da antiguidade que lançaram as bases da civilização ocidental. Da Grécia antiga até os dias atuais, o desafio na busca de resposta para as questões acerca da finitude ou não do universo e da alma humana, permanece. Platão vem justificar através do mundo das formas, a existência do mundo sensível dos sentidos e o mundo inteligível, concebido mentalmente e as explora no "Fédon", onde buscou através deste diálogo, concluir a existência de uma alma imortal, detentora de inteligência e de condição divina, sem no entanto conseguir demonstrar essa imortalidade.






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