Translate

segunda-feira, 29 de junho de 2015

Mito e Religiosidade na Grécia Antiga





Na Grécia Antiga, a religião era essencialmente politeísta e antropomórfica. Seus vários deuses, apesar de imortais, tinham forma e comportamento idêntico aos humanos. Cada um deles ocupava papel de destaque como protagonista de um mito que visava preencher as necessidades de lógica e sentido daquela civilização. Antes do nascimento da filosofia, os gregos explicavam o mundo através dos mitos. O mito pode ser definido como a narrativa de uma criação que nos conta sobre algo que não existia e passou a existir. Através de uma linguagem simbólica, os mitos falavam sobre os elementos básicos de uma cultura. O mito, portanto, era o relato de um acontecimento ocorrido no tempo primordial, mediante a intervenção de entes sobrenaturais.


O 'Caos' era o estado primordial, primitivo do mundo e deriva da palavra Khínein que quer dizer, 'abismo'. O Caos era concebido como o abismo profundo, algo indefinido, anterior a todas as coisas, onde sua forma era vaga e se confundia com os princípios de todos os seres particulares. Em seu poema "Teogonia", Hesíodo defendia que tudo tinha uma origem. Para ele, os primeiros "filhos" do Caos eram: Gaia (Terra), Tártaro (abismo mais profundo que o Hades, o inferno dos gregos) e Eros (desejo, amor erótico). Defendia que a Terra se apoiava no Tártaro, que por sua vez, era possível que se apoiasse no Caos, pois não havia a concepção de que a Terra girasse no espaço.




Os gregos da antiguidade acreditavam que os deuses nasceram do mundo e estavam no mundo. Para eles, o mundo continha algo de divino e os deuses, algo do mundo. Por essa razão, o culto estava diretamente ligado ao mundo, a elementos da natureza, aos sentimentos e às paixões humanas e também, à noções morais e sociais, tais como a justiça e a ordem. O mundo era uma manifestação do divino em suas múltiplas faces, o que não queria dizer necessariamente que cada elemento cultuado fosse uma divindade. A natureza não era destacada do sobrenatural e sob essa visão, os deuses apareciam como potências que reuniam sob seu poder uma pluralidade de efeitos. Segundo Homero, Zeus, o deus principal, manifestava-se como sendo o "pai dos deuses e dos homens", colocando-se como patriarca responsável pela justiça e pela ordem moral e social na Grécia. Seu nome significa "Resplandecente" e sua arma era o raio. Zeus nunca deixava sem punição os mentirosos e os que quebravam o juramento. Era o deus da justiça por ter derrotado os Titãs, reconciliando a violência e o direito. Por isso, os reis procediam dele.


O politeísmo helênico não se baseava em uma revelação. Não apresentava dogmas ou credos, nem tampouco existia entre eles sacerdotes ou clero, igreja ou livros sagrados. Os mitos eram passados de geração em geração como uma herança que deveria ser transmitida. Os gregos acreditavam em narrativas variadas que conheciam desde a infância através da tradição oral, geralmente recebidas de suas mães e amas de leite. Os poetas, através de suas obras escritas em forma de poesia e o testemunho oral, aproximaram os deuses dos homens, tornando-os familiares e acessíveis. O homem grego participava do culto cívico como membro de uma ordem coletiva. Não mantinham relação pessoal com a divindade. Para eles, os deuses encarnavam não o absoluto, nem o infinito, mas a plenitude de valores que constituíam o prêmio de uma existência de força, juventude e beleza na Terra e era na Pólis que os deuses eram reconhecidos e acolhidos.




A religiosidade no mundo grego obedecia a uma hierarquia: os deuses submissos a Zeus e os homens mortais que cultuavam esses deuses. A religião cívica da Pólis, apresentava como característica principal os deuses que a protegiam (divindades políades) que uniam no mesmo espaço homens e território (centro urbano e periferia), o que os diferenciavam das outras cidades. No que diz respeito a Hélade (região que denomina a Grécia Antiga) desenvolveram a literatura épica, construíram santuários, instituíram competições pan-helênicas, ciclos de festas e um panteão comum. O templo era o local de residência dos deuses e os homens eram associados à terra de sua Pólis com a intermediação dos deuses políades.


O culto aos heróis era, muitas vezes, de origem semidivina por serem eles filhos dos deuses com mortais. Seus feitos de bravura, geralmente em combate, exerceram grande influência na sociedade grega. Porém, os gregos não passaram a distingui-los dos demais homens mortais somente pelo seus feitos gloriosos, e sim por suas mortes heróicas que eram cantadas pelos aedos. Seus nomes eram imortalizados, pois acreditava-se que estes heróis ao morrerem eram transportados para as ilhas dos bem-aventurados, onde desfrutariam da felicidade eterna. Os heróis não eram divinizados, pois não serviam de intermediários entre os homens e os deuses. Entretanto, cultuá-los abria uma perspectiva de promoção desse herói a uma posição próximo ao divino. Alguns personagens adquiriram um valor simbólico ou exemplar, passando assim, a ser heroicizados por seus atos de bravura na guerra.


O mito expressava o mundo e a realidade humana. Ele se referia à história de um grupo ou de um povo, nunca de um único indivíduo. Justamente por tentar explicar o mundo e sua complexidade, o mito não poderia ser lógico e racional. Aos olhos leigos, os mitos podem parecer algo sem sentido e assim devem ser, pois os mitos devem ser, antes de tudo, decifrados. Os gregos, através de Homero e Hesíodo, criaram uma religião original, apoiada nesses mitos, os quais passaram valores e mensagens para o seu povo. Foi através desses mitos, que ambos tentaram explicar os fenômenos incompreendidos como a origem do mundo ou o sentido da morte e da vida; onde suas histórias transmitidas principalmente pela tradição oral, preservaram a memória de um povo.

* Fotos da autora do blog. Proibida sua reprodução.







Os artigos desse blog são de direito reservado.
Sua reprodução, parcial ou total, mesmo citando este link,
é proibida sem a autorização do autor.
Plágio é crime e está previsto no Código Penal,
Lei nº 9.610-98 sobre os Direitos Autorais






























Nenhum comentário:

Postar um comentário